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Comissão Nacional da Verdade

Coronel confessa tortura e assassinato na ditadura

Agência Estado
25 mar 2014 às 19:50

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O coronel da reserva Paulo Malhães, que havia assumido ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, voltou atrás nas declarações, ao prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade nesta terça-feira, 25. Pressionado pelos integrantes da comissão, Malhães confirmou ter torturado presos políticos e ter "matado pouca gente". Ele se negou a fornecer nomes de presos assassinados durante a ditadura militar, de agentes da repressão e a informar o número de pessoas que passaram pela Casa da Morte, centro de tortura clandestino que funcionou em Petrópolis (RJ).

"Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes nós tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tráfico. E que não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malhães.

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Inicialmente, o coronel da reserva aceitou comparecer à audiência, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que repórteres não fizessem perguntas. Ele chegou ao Arquivo Nacional às 14 horas, e se locomoveu numa cadeira de rodas. Malhães não se encontrou com a historiadora Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, que participou da audiência na parte da manhã.

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'Massa morta'. Malhães disse que foi mal interpretado nas entrevistas aos jornais O Dia e o Globo, quando falou "por meio de parábolas". Ele disse que chegou a receber a missão de dar sumiço no corpo de Rubens Paiva, mas foi deslocado para outra função. "Eu só disse que fui eu porque eu acho uma história muito triste quando a família diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. Não sou sentimental, não. (Falei) Para não começar uma guerra para saber onde estava o corpo".

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Segundo ele, os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". "Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele". O coronel negou que tivesse sofrido ameaças por conta das declarações, mas afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram "sanções" depois que suas declarações foram publicadas.


Malhães falou por 2 horas e 11 minutos. Ele minimizou o que era a Casa da Morte. Para o militar, o local era uma "casa de conveniência, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na própria organização". "Conseguimos vários", disse, sem informar nomes. O coronel foi evasivo em várias respostas. Disse que a casa funcionou por quatro ou cinco anos e defendeu a tortura como meio de se obter informações de "elementos de grande periculosidade".

"Não diria que ele tenha sido corajoso. Foi um exibicionista, mostrando todo este lado mórbido que está presente no caráter dele", afirmou Dias. "O caso Rubens Paiva está esclarecido. Ele diz que não participou da missão, mas não importa, porque ele reconheceu que houve a missão".


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