Moradores da Favela do Mandela, onde contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram queimados ontem (20) à noite, acompanharam nesta sexta (21) o trabalho de limpeza do entorno, lidando ainda com algumas consequências do confronto, como a falta de luz. Cerca de 60 garis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana chegaram para varrer as cinzas, os destroços e o lixo deixado em toda a comunidade.
"Ninguém conseguiu dormir na noite passada. Estamos em claro até agora. A confusão começou por volta das 6h da tarde e, depois que colocaram fogo aqui, acabou a luz e ninguém conseguiu dormir", conta uma moradora da comunidade que assistia ao trabalho de limpeza. "Teve tiro, pedrada, pau. Tudo o que encontraram pela frente, eles jogaram. Quem estava na rua, se escondeu dentro de casa até acabar, e muita gente acabou ficando na casa de parentes porque não tinha mais ônibus".
Em outra casa, onde havia venda de sacolés, o trabalho só começou mais tarde, por causa da falta de luz: "Agora já estamos vendendo, mas só deu para ligar o freezer de manhã", disse a vendedora. Em uma loja de aparelhos eletrônicos, a única atendente trabalhava no escuro: "Estou vendendo, mas não passo cartão, nem tenho como fazer recarga de celular".
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Na via principal da comunidade, parte do comércio estava fechada, mas, segundo os comerciantes que abriram, isso era normal: "Aqui é assim mesmo. Muitas lojas não estão alugadas e outras só abrem à tarde e à noite. Teve gente que não abriu por causa da falta de luz também. O açougue, por exemplo".
Policiais que faziam o patrulhamento na área também comentaram, sem se identificar, que a situação era tranquila no início da manhã. Eles disseram que não houve mudanças na rotina um dia depois do confronto. Os contêineres incendiados foram retirados no início da manhã, e alguns moradores chegaram a tentar garimpar os escombros para encontrar materiais que pudessem ter valor.
Na Avenida Leopoldo Bulhões, onde houve um protesto na noite de ontem, pedaços de vidro e cacos de garrafa ainda podiam ser encontrados. A manifestação era contra a desocupação de um prédio para obras do Programa de Aceleração do Crescimento, mas, segundo a Polícia Militar, criminosos teriam aproveitado para promover os ataques.