O futuro comprador da Copel deve pagar no mínimo R$ 22 bilhões pela empresa. A avaliação é do economista Almir Rockembach, 51 anos, de Londrina, especialista em finanças públicas, engenharia financeira e sistema tributário, que fez uma avaliação da empresa, baseado em informações oficiais da companhia. Em entrevista à Folha, ele disse que qualquer valor inferior significa perda de dinheiro aos cofres públicos. "O povo paranaense precisa saber a realidade dos fatos para não ser prejudicado", afirmou o economista.
Folha – No dia 31 de julho, o senhor concluiu uma avaliação paralela da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel). Afinal, qual é o valor da Copel?
Rockembach – A Copel vale no mínimo R$ 22 bilhões, pelo que tem e por quanto pode produzir. O cálculo é uma equação complexa, baseada no balanço da empresa, nos lucros futuros nos próximos 30 anos, nas ações internacionais e patrimônio de suas unidades. Além disso, levou-se em conta a taxa de investimento, que hoje está entre 20% a 21%, sendo uma das maiores do mercado paranaense e também do Brasil. Todo esse cálculo foi convertido a valores presentes.
Folha – E como o senhor vê o processo de privatização da Copel?
Rockembach – Com muita apreensão e desconfiança. Um governo que já conhece o preço mínimo e tem medo de anunciá-lo, faz com que aumente a nossa cisma. Ouvi nos bastidores, que o preço mínimo da Copel será fixado entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões. E preste atenção para o significado do preço mínimo. O governo do Paraná, estaria anunciando para o mercado que ele reconhece que a Copel inteira estaria valendo apenas R$ 8,5 bilhões. Como é possível esse valor, se apenas duas de suas geradoras – a Ney Braga e Bento Munhoz da Rocha – valem aproximadamente R$ 10,7 bilhões? E o resto? Não vale nada?
Além disso, desse valor, o governo Jaime Lerner detém hoje apenas 31% da companhia. Quando assumiu o governo em 1995, o Estado participava com mais de 90% das ações.
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Folha – O senhor é contra a privatização?
Rockembach – Eu não sou contra a privatização pelo simples fato de ser do contra. Da mesma maneira, entendo que aqueles que estão a favor da venda da Copel deveriam saber porque estão fazendo isto. Particularmente, acho que se fosse necessária a privatização, ela deveria ficar restrita ao setor de distribuição. A geração de energia deve permanecer nas mãos do Estado, porque tem fundamentos estratégicos muito fortes para ser entregue ao capital privado.
Folha – O governador do Paraná já confessou publicamente que também não gostaria de ver a Copel privatizada. Mas, se desculpa dizendo não ter outra saída. Afinal há outra saída?
Rockembach – O governo tem alegado que a venda da Copel é necessária para cobrir o rombo no sistema de previdência estadual e para capitalizar a Paraná Previdência. Ser for esse o problema, um pouco de engenharia financeira e muita imaginação podem resolver a questão. Por exemplo, uma alteração na composição societária e a consequente constituição de uma "holding" onde o sócio estratégico privado se obrigue na liquidação dos empréstimos com resgate das ações penhoradas com permuta temporária e a tempo certo, das ações ON do Estado, visando eliminar as amarras da Lei 8666.
Folha – Na sua avaliação, a desestatização no Brasil foi uma imposição externa, de algum órgão, como o FMI?
Rockembach – Na verdade, essa pressão existiu e continuará existindo. As economias dos países desenvolvidos estão mais ou menos exauridas. A ótica de longo prazo recomenda que esses países tratem de crescer além de suas fronteiras. O que existe de melhor no mundo dos negócios são empresas detentoras de mercado cativo tais como: telecomunicações, energia e saneamento. O ruim da privatização não está na pressão que vem de fora, mas na burrice que vem de dentro.
Folha – O senhor poderia explicar melhor?
Rockembach – Em 1995, quando o presidente Fernando Henrique assumiu o poder, a situação do setor público era a seguinte: as dívidas somavam R$ 153 bilhões e os ativos privatizáveis somavam R$ 284 bilhões.
Se você dividir 284 bilhões de ativos por 153 bilhões de dívidas, chegamos a 1,8. Isso significa dizer que em 1995, para cada R$ 1 de dívida, o setor público dispunha de R$ 1,80 em patrimônio. Portanto, uma situação econômica invejável em qualquer lugar do mundo.
O governo do Fernando Henrique ao promover o desmonte do Estado, patrocinou a falência do setor público e agravou a situação econômica nos próximos 20 anos.
Vejamos: em maio deste ano, o setor público contabilizou uma dívida de R$ 618 bilhões, enquanto que os especialistas informam que os ativos das companhias passíveis de privatizações seriam da ordem de R$ 70 bilhões.
Vamos refazer as contas: dividindo 70 bilhões de ativos por 618 bilhões de dívidas, chegamos a 0,11, o que mostra que para cada R$ 1 de dívida, o setor público dispõe agora de R$ 0,11.
Folha – E no Estado do Paraná, o que está acontecendo?
Rockembach – No Paraná está acontecendo o pior. Jaime Lerner assumiu o governo com uma dívida de R$ 1,1 bilhão, mas agora já está devendo R$ 8,9 bilhões. A incompetência no manejo das finanças públicas do Estado do Paraná é muito maior do que a incompetência de Brasília. Aqui no Paraná, o governo doa um dos bancos mais importantes do País e ainda assim comemora um ágio de mais de 300%. Isso significa dizer que a privatização do Banestado não passou de uma grande mamata.