Fatores conjunturais diversos, como quebra da produção e dificuldade na obtenção de crédito, dificultam o pagamento das dívidas pelos produtores rurais e muitos deles enxergam na recuperação judicial um caminho para evitar a falência.
Uma pesquisa divulgada neste mês pela Serasa Experian mostra um aumento de 535% no número de produtores rurais que atuam como pessoa física que recorreram a essa medida em 2023.
Em número absoluto, os pedidos de recuperação judicial computados no ano passado somam 127 em todo o país. Em um universo onde atuam milhares de produtores rurais, ainda é um número baixo, mas especialistas veem uma tendência de alta nesse movimento.
Leia mais:
Bancos restringem oferta de empréstimo consignado do INSS
Prefeitura de Londrina vende mais quatro lotes da Cidade Industrial
Brasil fica em 46º lugar de ranking de competitividade com 66 países, diz novo índice
Planos de saúde que viraram alvo do governo lideram lucros em 2024
E considerando a importância do agronegócio para a economia nacional, um olhar mais aprofundado sobre os dados levantados pela Serasa Experian chamam a atenção para a crise atravessada pelo setor há alguns anos.
Desses 127 pedidos de recuperação judicial, 35 são de grandes produtores e 43 foram registrados no Mato Grosso, o estado que mais acumula processos dessa natureza.
“O agro hoje representa em torno de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e puxa a economia brasileira. E o setor, nos últimos anos, vem passando por uma crise que só aumenta, como uma bola de neve”, disse o advogado mestre em direito empresarial e especialista em recuperação e reestruturação de empresas, Alan Mincache.
A conjunção de fatores que contribuíram para o acirramento da crise no agronegócio inclui a alta nos preços dos insumos – um resquício da pandemia, agravado pelas guerras no Leste Europeu e no Oriente Médio -, que elevaram expressivamente o custo de produção. Somado a isso, há uma maior oferta de produtos no mundo, com o crescimento no volume de commodities como soja e milho, e as sucessivas quebras de safra provocadas pelas mudanças climáticas, especialmente no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
Nessa conta entram ainda a mobilização de capital próprio e de terceiros para aumentar a tecnologia no campo e a área plantada e a carência de armazéns, que obriga os produtores a acelerarem a comercialização, dificultando a regulação de preços.
Mincache cita ainda a política econômica do país voltada especificamente para o agronegócio, ainda incipiente.
“Os planos safra que o governo apresenta, com os recursos subsidiados para fazer com que a agricultura faça investimentos com dinheiro mais barato, são muito pequenos e, então, ocorre o fenômeno da ‘financeirização’ da produção agrícola por meio do capital privado, mais caro, aumentando o custo de produção no país. E para piorar, o Brasil ainda não implementou de verdade um seguro agrícola, não é abrangente.”
Leia a reportagem completa na FOLHA DE LONDRINA: