A dívida do grupo Atalla - dono da Usina Central Paraná, em Porecatu (Noroeste do Paraná), - com o Banestado, acumulada nas últimas três décadas, já chegou a R$ 100 milhões. Segundo ex-diretores do banco, ouvidos ontem pela Folha, o débito foi renegociado em 1998 e reduzido a R$ 29 milhões. O restante teria sido perdoado. Conforme as fontes, o governo e alguns diretores do banco entenderam que a dívida havia aumentado muito devido à incidência de juros sobre juros e que tinha se tornado impagável, por isso teriam concordado com a negociação.
Avaliação feita por um ex-diretor do Banestado que confirmou a negociação, mas pediu à Folha para não ter seu nome divulgado, é de que o negócio foi "da China" para os usineiros, que hoje moram em Jaú (São Paulo). "Não é possível que eles tenham recebido um desconto tão grande", afirmou. Ele disse ainda que outros grupos empresariais teriam obtido descontos semelhantes, autorizados, inclusive, pelo Banco Central. A Folha tentou ouvir Jorge Wolney Atalla, um dos sócios da Usina Central, mas ele não foi localizado em seu telefone. Os demais sócios também não foram localizados. O governo não fala oficialmente sobre o assunto.
A dívida dos Atalla se tornou histórica no Paraná e sempre costuma ser citada por políticos como um dos desmandos de governos federal e estadual. O débito tem origem ainda no tempo da ditadura militar. Em 1973, o governo federal começou a liberar empréstimos vultosos para empresários que queriam investir em usinas de açúcar e álcool. Os Atalla receberam financiamento do extinto Instituto de Açúcar e Álcool (IAA) para construir a maior usina do País, como de fato chegou a ser nos anos 80. Até então, eles operavam com pequena capacidade a antiga usina que pertencia à família Lunardelli, em Porecatu. O problema é que, proporcional ao tamanho da empresa, era a dívida, que não parava de crescer no Badep (Bando de Desenvolvimento do Paraná).
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O ex-presidente do Badep Luiz Antonio Fayet lembra que a IAA não honrou o compromisso de repassar todo o dinheiro e delegou ao Badep, que era o agente financeiro, tal função. Mas os recursos do Badep eram mais caros, cotados em dólar, o que levou os Atalla a acumular um astronômico débito. "A culpa inicial da dívida dos Atalla é do IAA que não honrou a operação. Depois o caso foi para a Justiça e ninguém pagou mais nada", conta Fayet. Com a liquidação do Badep, no final do governo Alvaro Dias, a dívida foi transferida para o Banestado.
"O governo federal era o maior credor dos Atalla. Pedimos intervenção federal na usina, mas ela não aconteceu", lembra o senador Alvaro Dias. Na Justiça, os processos para cobrança da dívida tramitaram de maneira muito lenta. O que se conseguiu, no entanto, foi penhorar parte das propriedades que o grupo adquiriu no Paraná.
Segundo uma fonte ligada ao Banestado, os Atalla chegaram a comprar "7 mil alqueires, dos quais 3 mil teriam sido penhorados para o Banestado em primeiro grau". As terras foram compradas na região Noroeste. Havia fazendas ainda no Pontal do Tigre, que foram perdidas por causa das dívidas.
Políticos consultados pela Folha foram unânimes em apontar o falecido deputado Aníbal Khury como o grande padrinho dos Atalla, responsável por barrar o trâmite de qualquer processo judicial ou mesmo dentro do Banestado. Alguns governadores chegaram a cobrar do banco a falta de agilidade para executar a dívida dos Atalla. Mas a resposta vinha rápida: "Aníbal Khury não permitia qualquer agilização". A negociação com os Atalla ocorreu um ano antes da morte do deputado, ocorrida em agosto de 99.