Produção industrial segue em ritmo de recuperação em junho; necessidade de redução da taxa de juros continua
...o IBGE divulgou hoje (05/jul) o resultado da Pesquisa Industrial Mensal da Produção Física brasileira (PIM-PF) referente ao mês de junho. A produção fabril acelerou seu crescimento na passagem de junho para maio ao apurar crescimento de 1,6% em junho ante 1,3% em maio na série isenta de fatores sazonais. Na comparação contra o mesmo mês de 2004 foi observado o mesmo movimento de aceleração da taxa de crescimento ao subir de 1,3% em maio para atuais 1,6%, sendo o valor observado em abril de 0,1%.
Os dados revelam que apesar das dificuldades impostas pelo elevado nível da taxa de juros doméstica (Selic) e pela valorização do Real frente ao Dólar, a atividade econômica do setor fabril não se abateu e se acomodou em um nível de crescimento mais moderado.
A curva da evolução da taxa de crescimento acumulada em 12 meses, após atingir 8,6% em fevereiro deste ano – seu maior nível desde julho de 1995 (10%) – está em trajetória consistente de queda revelando o enfraquecimento da produção e apontando para um crescimento anual em torno de 4,5%. Por exemplo, se o nível de produção observado em junho for mantido estável até dezembro a taxa de crescimento da produção industrial em 2005 será de 2,6%, valor muito próximo à média observada entre o início do Plano Real (jul/94) e o momento atual (jun/2005): 2,9%. Ou seja, apesar do robusto crescimento observado no setor fabril em 2004, as perspectivas para o setor não são muito positivas, inclusive com o cenário de uma taxa de câmbio cada vez menos competitiva e, principalmente, por uma taxa de juros sendo a maior do mundo.
O principal destaque entre as categorias de uso foi o segmento de Bens de Consumo Duráveis (eletrodomésticos, eletro-eletrônicos, celulares, automóveis, etc.), ao registrar as maiores taxas de crescimento entre todas as categorias e em todas as bases de comparações. Na comparação contra maio, já descontando os efeitos sazonais, a taxa de crescimento foi de 8,1%. No confronto contra junho de 2004, o crescimento foi de 23,6% e nos acumulados no ano e em 12 meses os resultados foram 16,7% e 18,4%, respectivamente.
Como destacou o próprio IBGE, este segmento foi estimulado tanto pelo crescimento do volume de crédito quanto pelas exportações. Vale destacar o recorde histórico das exportações brasileiras nos meses de junho e julho, conforme informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O pior desempenho ainda é registrado pelo segmento de Bens de Consumo Semi e Não duráveis (alimentos, vestuário, tecidos, calçados, remédios, etc.), pois esse é um segmento muito sensível ao nível de renda e emprego da economia (massa de salários) e a recuperação de tais variáveis permanece em compasso de espera.
Produção Industrial vs Copom
Apesar do resultado agregado da produção industrial de junho apontar para um desempenho significativo do setor, e com trajetória consistente de recuperação na margem, não é um fator impeditivo para decisão do Copom de manter a taxa de juros estáveis na reunião de agosto. Dessa forma, mantemos nossa expectativa de redução da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, estabelecendo o novo valor em 19,50% ao ano.
Nossa expectativa se apóia no fato de que os segmentos que estão "sustentando" o crescimento são aqueles com maior sensibilidade ao mercado externo e às condições do mercado de crédito, portanto, os efeitos das decisões de política monetária sobre esses setores na atual conjuntura econômica são modestos (maior volume de crédito e crescimento mundial ainda forte).
Ademais, os setores considerados "fontes de riscos" à estratégia de política monetária implementada pelo atual colegiado desde 2004 (combate direto aos riscos inflacionários) são identificados pelos Bens de Consumo Semi e Não Duráveis que, apesar da trajetória de recuperação observada desde 2004, ainda apresentam taxas de crescimento muito baixas, senão pífias.
Outro fator que justifica o início do processo de abrandamento da política monetária já na reunião de agosto diz respeito ao segmento de Bens de Capital (proxy de investimentos). Ou seja, este é um segmento que quanto maior for sua taxa de crescimento maior será o ganho em escala no médio e longo prazo e menor será a pressão sobre os preços no mesmo período. Neste sentido, vale destacar o forte crescimento do segmento apresentado em 2004 (taxas próximas de 40%) refletindo os fortes investimentos no setor agrícola em decorrência dos altos preços dos grãos no mercado internacional (ex: soja), mas que vem perdendo fôlego nos últimos meses. O segmento se reabilitou em junho, mas a perspectiva não é positiva em função (i) da manutenção da taxa de juros básica em níveis elevados, (ii) da valorização do Real frente ao Dólar e (iii) do ambiente político doméstico conturbado e gerando incertezas. Fatores esses que repelem os empresários do setor real a fazerem novos investimentos tanto em máquinas e equipamentos quanto em mão-de-obra.
No FIIL