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Legalização

Debate sobre a maconha chega à campanha municipal

Agência Estado
05 out 2012 às 20:37

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O debate sobre a legalização da maconha chegou às campanhas municipais, embora caiba ao Congresso legislar sobre drogas. Candidatos a vereador de diferentes partidos e de correntes opostas abraçaram a causa. As estratégias para ganhar o eleitor são as mais distintas: vale trocadilhos, criar personagens e apelar para símbolos próprios da cultura da Cannabis.

O Rio tem dois candidatos conhecidos pela bandeira pró-legalização: o petista André Barros e Renato Cinco, do PSOL, ambos organizadores da Marcha de Maconha na capital. O primeiro é adepto dos trocadilhos. "Baseado na sua consciência, aperta um, três, quatro e vinte. Não esquece. Confirma. Aperta o verde de novo", diz Barros, na propaganda eleitoral. A reportagem localizou dez candidatos ligados à descriminalização. Cinco deles usam a terminação 420, depois do número do partido. "Quatro e vinte" ficou conhecido como "o horário para fumar maconha" por causa de um grupo de estudantes da Califórnia, que se reunia depois da escola, nos anos 1970, explica o ativista Marc Emery, em artigo publicado no Huffington Post. Quando os amigos seguiram a banda Grateful Dead, em turnê, levaram o ritual para outras partes do país.

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Hoje o número serve para identificar candidatos que defendem a causa - além de Barros, o registro foi adotado por Mel Marquer (PSOL, Rio das Ostras/RJ), Núbio Revoredo (PV de Nova Iguaçu/RJ), Mariana Marques (PSDB, de Florianópolis/SC) e Indio (PSL, de Curitiba/PR). Renato Cinco reconhece que trazer o debate da legalização para a campanha para vereador é "uma maneira de divulgar a causa", mas ressalta que há uma política municipal de drogas que precisa ser discutida. "A gente tem se esforçado para municipalizar o debate. No Rio, temos denunciado a inexistência de atendimento de saúde mental, discutido a internação compulsória e propondo a criação de consultórios de rua", afirma Cinco.

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Ele é candidato pela terceira vez - em 2006, teve 2.204 votos para deputado estadual; em 2010, ficou como primeiro suplente, com 9.333 votos para deputado federal. Cinco optou por fazer campanha mais sóbria a fim de evitar o estigma que cerca o assunto. "A legalização não é um tema dos usuários. Tem que legalizar para combater a violência e a corrupção. É um tema sério, que envolve vida e morte, prisão e liberdade", defende.

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Personagem


A linha do candidato Lucas de Oliveira, do PSDB de Florianópolis, vai na direção contrária. Ele criou o personagem "Presidente THC", numa referência ao princípio ativo da maconha e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defende a descriminalização. Oliveira imprimiu panfletos em papel de seda e vendia o material, como forma de arrecadação para a campanha. A Justiça Eleitoral foi em cima - os folhetos foram apreendidos. "A questão das drogas é um assunto envolto de sangue, de muita violência. Optei por fazer uma campanha bem humorada, para atingir as pessoas por um outro lado, tirando o foco da violência, que é produto da lei ineficaz", afirma Oliveira.

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Para ele, a leveza "facilita o contato com as pessoas". A estratégia parece funcionar - 1.310 pessoas curtiram o perfil dele, bem mais do que os 150 eleitores que conquistou em 2008, na primeira candidatura a vereador. Em Rio das Ostras, Mel Marquer tem o símbolo da Marcha da Maconha no material de campanha, mas evita falar em legalização com os eleitores. "Os jovens se identificam, mas nas panfletagens com famílias as pessoas fazem cara feia. Aí eu falo sobre como a política repressiva não funciona, como seria interessante ter um debate real nas escolas e elas se mostram mais abertas ao tema", explica.


Redução de danos

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Núbio Revoredo usa a terminação 420, mas é a única referência clara à maconha. Em seu site, não havia, até quinta-feira (4), citação a drogas, redução de danos e temas correlatos. "Não coloco a legalização como bandeira da campanha porque a gente sabe que não compete ao vereador legislar sobre questão federal", afirma.


Outros três candidatos foram entrevistados pelo site Cultura Verde, e descritos como "antiproibicionistas", mas não fazem alusões explícitas à maconha em seu material de campanha disponível na internet.


Para Ilona Zsabo de Carvalho, co-coordenadora da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, da qual Fernando Henrique é presidente, o tema tem sido debatido de maneira simplificada na eleição. "O município tem grande poder de atuar com redução de dano, prevenção e tratamento. Apesar de as políticas alternativas que estão sendo propostas na América Latina inteira precisarem de decisão federal, o nível local é chave", afirma.

Ela cita como exemplo a proposta do prefeito de Bogotá de abrir salas de consumo para dependentes que usam drogas nas ruas. "A cidade forçou uma decisão do nível federal, ao defender que é melhor que os dependentes estejam protegidos e sejam encaminhados para tratamento do que as cenas abertas que vemos nas cracolândias".


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