Desde esta sexta-feira (21), a Escola de Circo de Londrina vive um dilema inédito: sem receber recursos do munícipio, já que todos os projetos enviados ao Promic foram reprovados, o projeto vê pela primeira vez a possibilidade de ficar sem espaço.
Longos anos de história necessitam de uma rápida solução, pois histórias fascinantes não merecem ser interrompidas. Em conversa com três alunos e uma mãe é possível concluir os benefícios que a escola proporcionam aos alunos. Histórias como a de Luiz Gustavo, que foi reencontrar um ex-companheiro de aula em um centro de reabilitação.
Ou a de Gisele, que de Londrina foi parar na Escola Nacional de Circo. A de Thabata, que diz que os alunos da escolha são tratados como estrelas em apresentações fora da cidade. Mas há também a de Maria, ou a mãe do Artur, que com toda convicção diz o filho estará no Cirque du Soleil. Para isso, ela e toda a família largaram tudo e, pelo filho, vieram morar em Londrina.
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Luiz Gustavo, 20 anos: "Tem aluno que vem direto para cá, sem mesmo almoçar e às vezes não tem dinheiro nem para o passe do ônibus. O interessante é que se esse mesmo aluno cometer um um assalto ele vai ser encaminhado a um centro de socieducação e lá vai receber refeições, terá mais atenção". A constatação de Luiz é com base em uma história real. Em 2003, iniciou no projeto junto com um outro rapaz da mesma idade. Pouco tempo depois, o tal aluno não apareceu mais na aula, mas Luiz continuou e começou a ganhar destaque na escola. Certo dia, durante aula no Centro Integrado Atendimento Ao Adolescente Infrator (Ciaadi), Luiz e o ex-aluno se encontraram. Ele estava lá após ter cometido um assalto. Após cumprir sua pena, estimulado pelo circo, o jovem entrou para a escola e hoje também é um dos que mais se destacam.
Gisele Rodrigues, 23 anos: da Escola de Circo de Londrina para a Escola Nacional de Circo no Rio de Janeiro. Desde julho do ano passado Gisele está morando no Rio de Janeiro. Ela e mais dois londrinenses ganharam o direito de fazer parte da Escola Nacional. Os três foram selecionados entre 15 pessoas no Brasil, e, limitando mais, eram apenas três vagas por região e as três foram para alunos da escola londrinense. Especialista em diversos equipamentos, com destaque para o arame, ela disse que os alunos de Londrina, apesar da estrutura na cidade, são bem elogiados pelos professores no Rio de Janeiro. No novo desafio, ela explicou que o período de treinamento é integral, com aulas práticas e teóricas. Um ponto destacado por ela foram as aulas de anatomia: "agora eu consigo entender meu corpo e identificar o que está causando a dor". Gisele acrescentou o benefício que traz o acompanhamento de um fisioterapeuta e de um psicóloga. Também lembrou de uma aula crucial: primeiros socorros. "É fundamental, porque a gente convive com risco de queda, nossa e dos companheiros. O atendimento rápido pode salvar vidas". Lá ela deve ficar até junho, quando encerra a sua bolsa e a intenção é permanecer no Rio "onde tudo acontece para o circo". Mas o sonho, "o sonho é ir para a Europa, trabalhar em circos itinerantes".
Thabata Silva Rodrigues, 18 anos: aluna desde os 12 anos de idade, hoje professora, Thabata quer permanecer em Londrina e transmitir a oportunidade que teve para outras pessoas, mas as dificuldade podem levá-la a sair da cidade. A maneira de a jovem mostrar que a Escola de Circo de Londrina não tem o reconhecimento que merece na cidade é contando que eles são bem requisitados em diversos locais e mais, em alguns são tratados como estrelas. "No Paraguai já pediram para que a gente abrisse uma escola lá. Tem lugar que os alunos chegam ao ponto de receberem pedidos de autógrafos".
Maria Alice Menezes: sem desmerecer as outras três histórias e as dos outros alunos, mas a da dona Maria, ou mãe do Artur, é a mais cativante. Ela, com a família, deixaram tudo em Ourinhos (interior de São Paulo) e vieram morar em Londrina para que o menino, na época com 11 anos, pudesse estudar na escola de circo. Pelo que ela conta, foi amor à primeira vista: "nós estávamos em Londrina, aí passamos em frente a escola, o Artur se interessou e já se matriculou". Hoje ela enche os olhos para falar do raro talento do filho, que está com 14 anos. A confiança é tanta que ela nem fala em sonho, mas já vê o filho participando do Cirque du Soleil. Os elogios hoje não refletem bem o que era antes, ela revela que Artur era um aluno problemático e que ela era sempre chamada pela diretora da escola. Após "entrar para o circo", o comportamento do menino mudou e hoje ele é um exemplo para os demais. Nem é preciso perguntar para dona Maria se a mudança para a Londrina valeu a pena. Ela conclui com o que acha qual deve ser o papel dos pais: "precisa incentivar o talento dos filhos".