Londrina, 13 de junho de 2001.
Prezado(a) Conselheiro(a):
Passo às suas mãos uma cópia da carta-renúncia ao cargo de vice-reitor que entreguei ontem (12/06) ao Governador Jaime Lemer. Em termos formais minha renúncia não poderia deixar de ser endereçada a ele, pois legalmente é quem nomeia o reitor e o vice-reitor das universidades públicas do Paraná. No entanto, gostaria de registrar que respeito as atuais determinações legais que atribuem ao Conselho Universitário a competência para deliberar sobre as listas tríplices enviadas ao Governador e, nesse sentido, desejo expressar meus agradecimentos pela confiança que o Conselho depositou em meu nome há pouco mais de três anos.
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Retornando das férias de maio e da viagem a Washington realizada no início deste mês, procurei me inteirar dos acontecimentos que entristecem a nossa vida universitária. Aliás, pelo que ouvi nesses poucos dias após o retorno, devo dizer que são acontecimentos que entristecem a sociedade londrinense. Esta, ainda não totalmente recuperada do impacto representado pelos episódios do ano passado, envolvendo a administração pública municipal, está perplexa com os fatos veiculados pela imprensa envolvendo o campus da instituição mais querida dos londrinenses.
Em essência os motivos da minha decisão estão contidos na carta dirigida ao Governador. Nesta oportunidade desejo somente enfatizar que compartilho do sentimento de indignação que toma conta de muitos dos conselheiros. Minha indignação é talvez maior do que a de muitos porque é acompanhada do sentimento de ter sido traído na confiança que depositei em torno da possibilidade de desenvolver um trabalho probo e eficiente em favor do desenvolvimento da UEL.
Coerente com os princípios de um sadio relacionamento interpessoal, comuniquei previamente ao reitor o encerramento precoce da Gestão UEL Unida, durante a qual procurei contribuir com o melhor das minhas capacidades. Realizando, inclusive, na prática, a transparência acadêmico-administrativa, como podem ser atestados pelos processos de gerência dos recursos financeiros dos cursos de pós-graduação hoje vigentes na CPG e pela confecção, em julho de 2000, do primeiro relatório financeiro dos concursos vestibulares da UEL.
Retomo a partir de amanhã minhas atividades docentes e de pesquisa, as quais felizmente consegui manter sem interrupção nesses três anos de participação na administração superior da Universidade. Como disse no discurso de posse, tentei "vestir o terno e a gravata, sem negar o jaleco de educador". Desejo que você e os demais membros do Conselho Universitário consigam cumprir o papel que a comunidade acadêmica e a sociedade londrinense anseiam.
Sei que sérias, relevantes e difíceis decisões serão tomadas por você nos próximos dias. Isso implicará na necessidade de reflexões e análises aprofundadas. Tomo a liberdade de registrar abaixo alguns trechos do livro de Eduardo Giannetti, "Autoengano", que reli nos últimos dias. O livro é um esforço de pensamento sobre o modo como os indivíduos formulam para si próprios equívocos nos quais acreditam.
"Abrir-se à dúvida radical - á possibilidade de que estejamos seriamente enganados sobre nós mesmos e sobre as crenças, paixões que nos governam - é abrir-se à oportunidade de rever e avançar."
"A força do acreditar, é verdade, faz milagres. Mas isso não a torna critério de verdade, assim como a disposição a resistir e aguentar todo tipo de perseguição em nome de um ideal revela, sim, bravura, mas nada nos diz sobre a validade da causa em jogo de um ponto de vista ético."
"A prevenção do mal ajuda, mas não sacia o desejo humano de encontrar o bem. Navegar é preciso. Ouvidos abertos, olho na bússola, mastro à mão."
Agradeço a oportunidade de ter convivido com você nesses anos. Muito obrigado pela confiança que, em muitos momentos, você demonstrou ter tido em minhas ações. Aprendi com você coisas que desconhecia. Desculpe-me as falhas e erros que tenha cometido. Deixo o cargo de cabeça erguida, respondendo pelos meu atos e exigindo enérgico esclarecimento dos fatos. Não se trata de "lavar as mãos" ou "abandonar o barco" como os equivocados de sempre podem tentar rotular esta minha decisão. Trata-se isso sim de sinalizar ao Governo, à comunidade e à sociedade que, esgotadas as condições de uma ação eficiente e confiável, prefiro manter minha integridade. Afinal, antes de ser vice-reitor sou professor e, antes disso, sou londrinense "pé vermelho e de mãos limpas" com muito orgulho! No devido tempo, espero que o Conselho Universitário realize uma avaliação objetiva do meu desempenho como vice-reitor.
É preciso de uma vez por todas que nossos dirigentes entendam que a sociedade civil quer implantar a transparência total no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. E as universidades não escapam a esse movimento. No momento, estou convencido, o fundamental é garantir mecanismos de averiguação das denúncias que rapidamente levem à punição dos culpados e à renovação antecipada da administração superior, única forma de se restaurar a credibilidade institucional, antes que a atual crise administrativa contamine de forma irrecuperável a área acadêmica e cause prejuízos de dificil recuperação. A UEL poderá sair fortalecida desses episódios e o papel de cada um dos conselheiros é decisivo.
Em defesa da UEL! Bom trabalho!
Atenciosamente
Marcio José de Almeida