A demolição do mocó da Avenida Duque de Caxias, centro de Londrina, começou na terça-feira, mas teve que ser interrompida nesta quarta-feira por causa das ameaças dos moradores do local. A coordenação do projeto Onde Moras? obteve a autorização do proprietário do imóvel, Ariovaldo Ferraz Arruda, para fazer a demolição. O material seria utilizado na construção de casas no Jardim São Jorge, zona norte.
O engenheiro responsável pelo projeto, Maurício Costa, informou que seriam retirados do local os tijolos e a madeira. ''O material que tem no imóvel é suficiente para a construção de três casas de 40 metros, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro'', disse.
Maurício Costa disse que se o prédio for demolido de maneira usual todo o material irá se perder. ''Isso seria um desperdício, mas com a ameaça que sofremos teremos que esperar para decidir o que iremos fazer. Não podemos colocar a vida das pessoas que fazem parte do projeto em risco'', afirmou.
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De acordo com Gilberto dos Santos, 30 anos, morador do mocó há mais de 18 anos, atualmente estão no local mais de 20 pessoas. ''Nós não temos para onde ir, não queremos que quem mora aqui seja prejudicado. Não dá para jogar a gente na rua, não é?''
Leonardo Gomes, 28 anos, também morador do mocó, concorda com o amigo. Ele mora na rua desde os 12 anos. Os dois contaram que que quando eram adolescentes, na época da administração de Luiz Eduardo Cheida (1993-1996), ficaram em uma Casa Abrigo. ''Depois, o projeto acabou não sei por que e nós voltamos para a rua'', argumentou Santos.
O procurador da prefeitura, Carlos Scalassara, informou que a ação movida pelo município contra o proprietário do imóvel continua. ''O acordo feito por eles é independente da ação. Claro que havendo a demolição é o que interessa ao município. Para a cidade é bom porque o mocó deixa de existir.''
Scalassara explicou que o objetivo da ação é a demolição. Se ela for feita pela prefeitura terá um custo para o proprietário. A Folha procurou Arruda, mas uma funcionária informou que ele está viajando e só retorna na segunda-feira.
Edson Camargo, 26 anos, é um dos participantes do projeto. Para a casa dele ficar pronta, falta apenas cobrir e fazer o contrapiso. Durante a semana ele ajuda na demolição dos imóveis doados e na construção das casas. Nos finais de semana Camargo trabalha como folguista (porteiro que trabalha cobrindo folgas de outros).
Segundo Camargo, o projeto doa o material e uma cesta básica para cada família. Em contrapartida, as famílias entram com a mão-de-obra para a construção. ''Pra gente é bom, agora estamos em 11 famílias construindo as nossas casas. Com uma casa melhora a vida da gente'', afirmou.