As faixas de pedestre e as placas instaladas nos cruzamentos sem semáforos continuam sendo solenemente ignoradas pelos motoristas de Londrina. Há dois meses foi lançada na cidade a campanha Pé na Faixa, que repintou as faixas de pedestre, afixou placas e está conscientizando os motoristas em blitz educativas.
Esta semana, a reportagem do Bonde permaneceu por várias horas no cruzamento da Rua Piauí com a Avenida Rio de Janeiro, na região central, observando e gravando em vídeo a movimentação dos carros e pessoas e não conseguiu verificar um único motorista que tivesse dado preferência aos pedestres.
A auxiliar de escritório Iris Lima, 33 anos, é pedestre e motorista. Entrevistada pelo Bonde após uma longa espera para cruzar a rua sobre a faixa, disse que esse é seu procedimento habitual. "Os motoristas não respeitam a faixa, mas ainda assim é mais seguro", avaliou. Questionada se quando está ao volante, respeita a faixa de pedestre ela foi enfática: "Respeito sempre. Sempre paro para os pedestres, mas quem está atrás mim, com o carro, começa a buzinar; já fui xingada por causa disso, mas é o certo a fazer".
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A microempresária Silvana Almeida, 45 anos, também utiliza as vias de Londrina como pedestre e motorista. Lamentou profundamente que os condutores não respeitem a faixa, mas disse que ela própria não tem esse costume quando dirige. "A gente está tão acostumado a não parar para o pedestre que acaba esquecendo desta obrigação. Acho que precisa mais incentivo e mais campanha para que a gente aprenda isso", afirmou.
Seu companheiro, o operador de telemarketing José Luiz Chequetti, 41, cruzava a rua com Silvana, corretamente sobre a faixa. "Como pedestre, procuro passar pela faixa, mas ninguém respeita não. Tenho dirigido pouco, então não sei como sou como motorista. Agora, acho que os agentes têm que multar quem não respeita, porque o brasileiro só muda quando se mexe em seu bolso", sugeriu.
Chequetti disse que já morou em Maringá e lá basta pisar na faixa para que os carros parem e esperem o pedestre passar. "Sou londrinense, mas quando voltei para cá me assustei com a diferença no trânsito".
A aposentada Virgulina Marques Napoli, 57 anos, foi vista pelo Bonde fazendo uma travessia perigosa. Cruzou em diagonal a Avenida Rio de Janeiro, indo do Bosque até a calçada em frente. "Normalmente costumo passar pela faixa, mas hoje eu estava distraída e esqueci. Mas estou errada mesmo", comentou.
Especialistas em trânsito entendem que muitos pedestres não atravessam as ruas pela faixa porque sabem que os carros não param de qualquer maneira. Então, a falta de segurança, acaba sendo a mesma.
Uma pedestre que não quis revelar o nome também passou fora da faixa, na verdade, na antiga faixa que existia neste mesmo cruzamento, mas que foi apagada. "Aqui é mais perto. Indo pela outra faixa, teria que andar mais. E nenhum carro para mesmo", justificou-se.
Avaliação da campanha
A campanha Pé na Faixa, lançada em setembro, ainda não surtiu muitos resultados e, por isso, deve ser intensificada em Londrina nas próximas semanas com equipes que obrigarão o motorista a parar nas faixas não semaforizadas.
Posteriormente, os agentes de trânsito irão multar os infratores. "A gente imaginava que no começo da campanha o resultado não fosse tão expressivo porque são mais de 70 anos de comportamento irregular e não se muda esse condicionamento em pouco tempo", explicou ao Bonde o diretor de Trânsito da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Sérgio Dalbem.
Ele comentou a situação da primeira motorista entrevistada pelo Bonde, que acaba sendo xingada por respeitar a lei de trânsito. "Estamos ainda no começo da campanha, mas isso vai mudar quando mais gente estiver parando na faixa", afirmou Dalbem. "Quando os motoristas infratores perceberem que estão em minoria, também vão mudar seu comportamento, pelo menos para não parecerem mau educados".
Sobre a faixa que foi apagada, o diretor explicou que muita sinalização foi criada de forma irregular em Londrina. "Algumas faixas foram pintadas só por motivos políticos sem qualquer critério de trânsito; neste caso (da Piauí com a Rio de Janeiro), não podemos ter duas faixas numa distância de menos de 10 metros entre elas".
Sérgio Dalbem disse "não ter ideia" de quantos cruzamentos para pedestres existem em Londrina sem semáforo. "Não há um cadastro correto desses cruzamentos". Mesmo assim, a ideia é, durante as próximas semanas, obrigar fisicamente os motoristas a pararem nestes cruzamentos. "Vamos parar os carros nas faixas com uma faixa de pano. Deixaremos o motorista 30 segundos parado, ainda que não passem pedestres, para que ele vá se condicionado a parar na faixa", explicou.
Depois de 50 a 60 dias, se as pessoas não entenderem a necessidade de dar preferência ao pedestre, serão multadas. "Aí colocaremos agentes nas faixas de pedestres para autuar os infratores".
Sérgio Dalbem explicou que parar na faixa traz vários benefícios para o trânsito, como a redução da velocidade média. "Se você sabe que adiante haverá uma faixa, já vai andando mais devagar para parar, se um pedestre estiver esperando para atravessar", explicou. "Com o tempo, esse comportamento substitui lombadas e radares de velocidade".