Pela primeira vez na história das feiras agropecuárias e industriais do país, a Sociedade Rural do Paraná (SRP) e a Ong Meio Ambiente Equilibrado (MAE) testam um projeto piloto de seleção de resíduos na fonte de geração, o que pretende diminuir este ano a quantidade de lixo a ser enterrada, gerada durante a realização do maior evento da América Latina.
Desde a montagem dos estandes antes da feira, a Ong MAE monitora, registra e estuda solução para os diferentes resíduos gerados durante a preparação, realização e desmontagem de tudo. Em todas as fases da ExpoLondrina são gerados restos de alimentos, recicláveis, rejeitos, materiais de construção civil e muito, mas muito esterco de touros, vacas, cavalos e ovelhas (veja números).
O objetivo do projeto "Resíduo 100% Separado" é que, com os primeiros passos já dados este ano, em 2012 a destinação adequada de resíduos com separação de recicláveis, rejeitos e orgânicos seja obrigatória e conste nos contratos dos expositores. Uma pesquisa da Ong MAE entre os expositores presentes revela que nenhuma feira agropecuária do país faz tratamento de resíduos, segundo eles mesmos responderam. E que entre as cidades de onde vem os expositores, sobretudo do Paraná e São Paulo, praticamente nenhuma tem programas sérios de separação para geradores ou projetos de reciclagem.
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"É uma cidade instantânea, instalada durante 11 dias, e que tem todos os problemas que as cidades também tem em relação ao tratamento de lixo", diz Eduardo Panachão, presidente da Ong MAE, e coordenador do projeto.
Durante os três primeiros dias da feira, as equipes da Ong MAE buscaram entender rotinas de geração e registrar, para depois começar a intervenção piloto, principalmente nas cozinhas de restaurantes.
Até o momento, os 24 maiores geradores participam da iniciativa. Em uma noite de ação com os restaurantes, por exemplo, na noite de quinta-feira, a coleta de restos de comida gerou 527,8 kilos que não serão mais enterrados como ocorria comumente – e abastecerão 21 hortas comunitárias de Cambé.
"Desenvolvemos um trabalho inédito porque o gigantismo da feira exigiu uma criteriosa observação dos resíduos e das formas de descarte a que todos estavam acostumados. Na seqüência, conseguimos planejar uma intervenção piloto que superou as nossas expectativas, graças ao trabalho de quem gera mais: os próprios expositores", explica.
O trabalho é dividido em três frentes. Com suporte da Ong MAE, a Coopersil também atua com 40 trabalhadores na feira na coleta seletiva – e tem sucesso ao evitar que milhares de reais sejam enterrados e agora transformem-se em renda para os catadores.
Em outra frente, a de Orgânicos, os 24 maiores geradores identificados no monitoramento – maioria restaurantes – foram convidados a separar restos de alimentos e sobras de verduras, hortaliças e frutas para envio às hortas de Cambé, onde o material se tornará compostagem para adubação.
A frente dos Rejeitos sem aproveitamento – formada pelo lixo varrido pela limpeza das ruas onde estão 400 conjuntos de latões coloridos para separação – é remetida para o único aterro privado de Londrina, a Kurica Ambiental. A meta da Ong MAE é enterrar cada vez menos a maior quantidade possível de resíduos, em cumprimento às leis ambientais vigentes em Londrina e no país. Com menos lixo enterrado a cada ano, a expectativa é que a separação na fonte da geração reduza os custos do serviço – dica que pode ser seguida por qualquer gerador. "É uma tarefa que precisa da participação de todo mundo integrante do processo: da geração na cozinha ou no consumidor até o descarte na lixeira da rua", explica o coordenador do projeto.
Modelo
Segundo o coordenador do projeto, a experiência piloto na ExpoLondrina já é um modelo – um "case" - de abordagem para resíduos em feiras, eventos e exposições país afora. "A lei federal de saneamento e resoluções nacionais determinam que grandes geradores de resíduos destinem resíduos da maneira mais correta possível", afirma Eduardo Panachão.
O biólogo ressalta que apenas a gestão integrada de resíduos, entre coleta de orgânicos, coleta de recicláveis e coleta de rejeitos na origem e na fonte de geração é capaz de impedir que toneladas de lixo sejam enterradas inutilmente, em prejuízo ao meio ambiente e à coletividade de forma geral. "Criamos um modelo de abordagem que pode ser aplicado como exemplo.
A iniciativa da Sociedade Rural do Paraná é pioneira ao incluir não só a coleta seletiva, como a separação de orgânicos, algo em que temos muito a avançar aqui dentro da feira e também em Londrina. O nosso piloto mostrou uma forma viável e possível de separação porque as pessoas, quando chamadas a uma conversa sincera sobre a responsabilidade de cada um, aceitam e gostam de saber que o lixo pode ser aproveitado e não precisa ser só enterrado", diz Panachão.
Orgânicos
Um dos grandes desafio do piloto foi convencer os 20 restaurantes a fazer a separação dos restos de alimentos. Eles foram visitados individualmente por 12 monitores, que receberam explicações de acordo com o resíduo gerado no negócio. Cozinheiras, garçons, empregados e patrões foram mobilizados para a separação completa em três destinos, logo na origem.
Os resíduos dos restaurantes são coletados separadamente, em horários específicos. São pesados e anotados a quantidade de sacos de cada gerador de restos de orgânicos – até o momento, a média é de 1000 quilos em dias chuvosos – e a expectativa de até três vezes mais nos fins de semana, quando pela primeira vez o resíduo será medido com o parque lotado se o tempo permitir. "Um resultado impressionante, que deixamos de enterrar", diz o biólogo Eduardo Panachão.
Nos dias mais movimentados, o público interage com atores de teatro e palhaços que tratam da geração de lixo. Em uma das esquetes, um ator simula ser uma madame que se importa com o discurso – mas não com a prática quando o assunto é o lixo de cada um (veja mais no texto abaixo). Bichos da fazenda também abordam o tema de resíduos – e um supercamisetão, com cinco pessoas dentro, pedem que todos os visitantes e expositores "abracem" a campanha de separação na origem. (Fonte: Assessoria de Imprensa da Ong MAE)