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Mudança cambial na China: "Me engana que eu gosto"

25 jul 2005 às 11:48
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A valorização do Yuan ocorrida nessa semana provocou forte oscilação no mercado financeiro internacional, apesar de ter se restringido a uma mudança de apenas 2% no valor da moeda. Um minuto, eu disse "Mudança"??? Confesso que estou confuso quanto ao uso desta palavra no caso mencionado. Mas talvez por se tratar da primeira alteração em mais de uma década, ou pelo simples resultado da retórica política, o fato é que a decisão chinesa gerou expectativas e comentários injustificáveis, como o da autoridade americana que a classificou como "uma decisão de enorme importância para as relações comerciais internacionais", isso sem contar as apressadas previsões de dois bancos de investimento em Wall Street, que passaram a acreditar em valorização do Yuan de 8% até o final deste ano. É curioso perceber que poucos analistas atribuíram ao evento chinês a importância que ele realmente tem: QUASE NENHUMA! Afinal, variações de 2% no valor das moedas chegam a ser corriqueiras, não representando qualquer impacto significativo na vida das pessoas alem da excitação costumeira verificada nas mesas de operações. Essa microvalorização do Yuan mais parece um simples jogo de cena, ou como diria em bom português, o famoso "me engana que eu gosto". A um custo mínimo de 2% os orientais aplacaram a pressão de governos internacionais, dando a eles a chance de mostrar ao seu eleitorado que estão conseguindo resultados na luta pela redução da competitividade chinesa e pela manutenção dos empregos dos trabalhadores de seus países, constantemente ameaçados pelo risco de suas empresas fecharem as portas por não conseguir competir, ou de transferirem sua produção para a China. Esse evento só reforça a percepção de o quão excepcionais negociadores os chineses são. Suportam uma pressão enorme, não cedem quase nada e no final ainda dão ao seu adversário a ilusão de se achar o vencedor. Mas a dura realidade mostra que a competitividade chinesa permanece intocável. A análise fria nos leva a conclusão de que não há motivação lógica para crer que a China esteja caminhando para um regime cambial flexível, ou que permita uma apreciação razoável do Yuan. No máximo creio que veremos outros movimentos minúsculos ao longo dos próximos anos. Devemos lembrar que o sucesso econômico chinês tem três elementos básicos (não apenas três) que são a mão de obra barata, a baixa carga tributária e a moeda valorizada, todos conspirando para garantir um custo de produção incomparável entre as grandes nações do mundo. E isso vem possibilitando a atração de investimentos, o crescimento do comércio internacional, a acumulação de reservas, enfim, o forte crescimento econômico, que no final é o que garante a manutenção do seu rígido regime político. Outro aspecto importante é que esse modelo, quando aplicado em outros paises, só mostrou sinais de perda de competitividade quando o enriquecimento dele derivado encareceu o custo da mão de obra, já que os cidadãos destes países deixaram de ser o antigo exército de trabalhadores mal remunerados. Vimos isso ocorrer inicialmente no Japão e posteriormente nos hoje desenvolvidos Coréia, Hong Kong, Taiwan e Cingapura. Vimos também que, na medida em que o salário aumenta, o câmbio passa a ter importância cada vez maior na manutenção de baixos custos de produção em Dólar. A diferença é que os países citados acima tem populações relativamente pequenas, portanto o processo de enriquecimento per capita se deu num período de tempo relativamente pequeno. No caso chinês, com a inacreditável quantidade de mão de obra disponível, será preciso elevado crescimento econômico por muitos anos para que os salários dos trabalhadores cresçam a ponto de reduzir substancialmente a vantagem do custo-china sobre o custo-resto-do-mundo. E mesmo quando isso acontecer, sempre se pode contar com o efeito câmbio para manter custos de produção competitivos. Em resumo, a decisão chinesa nada mais é do que simbólica, longe de vir a se transformar em tendência. O câmbio continuará a ser um fator-chave para o crescimento econômico do país e seus governantes não abrirão mão disso. Se você concorre com um chinês, ha duas opções: a primeira é continuar lutando, cortando custos, melhorando a qualidade, fazendo o que for possível. A outra opção é aguardar por outras valorizações do Yuan. Nesse caso, puxe uma cadeira. Fernando Pinto Ferreira [email protected]
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