O Brasil concedeu nesta sexta-feira asilo ao senador de oposição boliviano Roger Pinto Molina, que estava abrigado havia dez dias na embaixada brasileira em La Paz.
"O governo brasileiro decidiu conceder asilo ao nacional boliviano Roger Pinto Molina, à luz das normas e da prática do Direito Internacional Latino-Americano e com base no artigo 4.º, inciso X, da Constituição Federal", disse o Itamaraty, em uma breve nota.
Pinto havia pedido asilo político ao governo brasileiro na semana passada, alegando perseguições políticas por parte do governo do presidente Evo Morales, segundo explicou em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
Leia mais:
França pede 20 anos de prisão a marido de Gisèle Pelicot, dopada e estuprada por dezenas de homens
Marta vence primeiro título nos Estados Unidos com Orlando e estadunidenses se rendem à 'rainha'
Orlando Pride, de Marta, vence e conquista primeiro título da NWSL
OMS anuncia que mpox ainda figura como emergência em saúde pública global
Pinto afirmou que vários motivos o levaram a escolher o Brasil para pedir asilo político.
"O Brasil tem ampla tradição de conceder refúgio político e é o país com o qual a Bolívia tem a maior ligação", disse.
Líder no Senado do partido opositor Convergencia Nacional (CN), o senador afirmou sofrer "perseguições políticas" ao procurar a embaixada brasileira em La Paz.
"A minha família estava com medo do que podia acontecer comigo. Estavam ameaçando até queimar nossa casa", afirmou. O senador disse que sua esposa, uma das três filhas do casal e duas netas estão no Acre e as outras filhas e netos na Bolívia.
"Eu morei e estudei no Acre quando era adolescente e por isso falo português" disse.
'Irregularidades'
Ex-governador do Departamento (Província) de Pando, na fronteira com o Brasil, o senador é acusado por autoridades locais de diferentes irregularidades.
Uma reportagem do jornal La Razón, de La Paz, diz que "o senador tem pelo menos 20 processos na Justiça, nos tribunais de La Paz, Santa Cruz, Sucre e Cobija, que se referem principalmente a acusações de desacato, venda de bens do Estado e corrupção".
Na semana passada, autoridades do governo reagiram contra o pedido refúgio na embaixada do Brasil.
"Não há presos políticos ou perseguição política (na Bolívia), mas acusados de atos de corrupção e infrações penais. Se ele acredita que não cometeu esses crimes pode ficar feliz e se defender", declarou o vice-presidente do país, Álvaro García Linera, à imprensa local.
O vice-presidente afirmou ainda que a Bolívia está "acostumada com muitos infratores que preferem fugir". Assessores da Presidência da Bolívia e do Ministério das Relações Exteriores do país disseram à BBC Brasil que a questão não está entre as prioridades do governo.
"Algumas autoridades comentaram o assunto na semana passada, mas agora não", afirmou a Presidência da Bolívia.
Já a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da Bolívia afirmou: "Entendemos que esta não é uma questão que deve ser resolvida pelo governo boliviano, já que o senador não está sofrendo nenhum tipo de perseguição ou maltrato".
Em nome do partido de Roger Pinto, o senador Bernard Gutiérrez defendeu o colega de legenda, dizendo, segundo o jornal Cambio, de La Paz: "O que ele fez foi denunciar atos de tráfico de drogas e de corrupção (de outros setores). E faremos de tudo para defendê-lo. A família de Pinto e ele mesmo foram ameaçados o que os levou a pedir ajuda política internacional ao Estado irmão do Brasil".