Nos enfrentamentos entre a polícia e manifestantes na Bolívia, neste último fim de semana, morreram vinte e oito pessoas, aumentando para mais de quarenta vítimas fatais desde o início do conflito há três semanas, segundo informações de organizações de defesa dos direitos humanos. Centenas de pessoas ficaram feridas.
O núcleo dos protestos concentra-se na cidade vizinha de La Paz, El Alto. Importantes organismos do Estado estão paralisados e os contatos entre os diferentes departamentos (províncias) se dá em meio a um verdadeiro caos.
Mauricio Antezana, porta-voz do governo, disse que Evo Morales e outros dirigentes políticos querem derrubar o presidente com estes protestos. O governo decidiu mandar tropas militares para "restabelecer a ordem" nessa cidade, a 12 km de La Paz. Os enfrentamentos se dão com o uso de pedras e bananas de dinamite por parte dos manifestantes. Gases lacrimogêneos e armas de fogo são utilizadas pelos policiais e militares.
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Parte da cidade de El Alto, onde moram 750 mil pessoas, encontrava-se sem eletricidade, depois que os militares atiraram contra os transformadores, segundo informaram os manifestantes. As autoridades afirmam o contrário.
Nesta segunda-feira, o vice-presidente da Bolívia e presidente do Congresso, Carlos Mesa, retirou seu apoio ao presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Segundo declarou Carlos Mesa numa coletiva de imprensa, a retirada de apoio ao presidente visa mostrar seu desacordo com a maneira como o presidente enfrenta a crise social e os protestos.
Os manifestantes se opõem a um plano de exportação de gás natural aos Estados Unidos e ao México através do Chile. Com a atual legislação boliviana, sobraria apenas 18% do total de rendimentos para o país.
Os protestos na Bolívia iniciaram em 15 de setembro, quando os camponeses das vilas próximas ao lago Titicaca e à fronteira com o Peru, decidiram bloquear as estradas com diversas reivindicações locais. Dias depois um trágico incidente nessa área, na qual morreram cinco pessoas, fez com outras setores e movimentos sociais e sindicais continuassem com os protestos, agravados pela violenta repressão do governo de Gonzalo de Sáchez de Lozada.
As empresas petroleiras encarregadas de promover o projeto, Pacific LNG e Sempras, deixaram claro que querem que o gás natural seja escoado pelo porto chileno de Patillos, para usufruir vantagens técnicas e econômicas. Devido aos protestos, o governo disse que vai adiar o projeto de exportação. A Bolívia perdeu a costa marítima frente ao Oceano Pacífico para o Chile, durante uma guerra em 1879. Ambas as nações estão com as relações cortadas desde março de 1978.
Nesta segunda-feira, a Comissão Européia lamentou os graves incidentes ocorridos na Bolívia e conclamou à busca do diálogo, para a manutenção da calma no país, evitando o exercício da violência. A Comissão Européia e a Comunidade Andina de Nações (CAN), a qual pertence a Bolívia, vão se reunir nesta quarta-feira em Quito, no Equador, onde pretendem assinar um acordo de diálogo político e de cooperação.