O economista Celso Furtado morreu no final da manhã deste sábado, em seu apartamento, na Rua Conrad Niemayer, em Copacabana. O velório será na Academia Brasileira de Letras (ABL), onde como "imortal" ocupava a cadeira de número 11.
Nome mais expressivo das ciências econômicas no Brasil, Celso Furtado nasceu em 26 de julho de 1920, em Pombal, no sertão paraibano. Economista adepto da linha estruturalista, Furtado se destacava por enxergar a economia de uma maneira social, mais humanista. Possuía uma vasta biblioteca, fundamental para despertar no autodidata e futuro economista o interesse pelos livros.
Um dos participantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), na ultima fase da Segunda Guerra Mundial, Celso Furtado chegou ao Rio de Janeiro em 1939, e depois de entrar para a Faculdade Nacional de Direito, e concluiu o curso em 1944.
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Em 1946, antes de viajar para a França, ganhou o prêmio Franklin D. Roosevelt, do Instituto Brasil-Estados Unidos, com o ensaio Trajetória da Democracia na América.
Na capital francesa inscreveu-se no curso de doutoramento em economia da Universidade de Paris-Sorbonne e no Instituto de Ciências Políticas. Em 1948 tornou-se doutor em economia pela Universidade de Paris, com a tese "L`économie coloniale brésilienne". De volta ao Brasil, entrou para o quadro de economistas da Fundação Getúlio Vargas, vindo a trabalhar para a revista Conjuntura Econômica.
Autor de livros como o clássico Formação Econômica do Brasil - que descreve a economia brasileira desde o período colonial até a sua industrialização - Celso Furtado viria a realizar importantes estudos relacionados à situação econômica nordestina.
Em 2001, o também autor de Dialética do Desenvolvimento, na qual explica que o desenvolvimento dos países ricos significa também o subdesenvolvimento das nações mais pobres, viria a receber o titulo de Economista emérito do Brasil, conferido pelo Conselho Federal de Economia em reconhecimento à sua obra e ao seu trabalho.
Em 1949, Celso Furtado transferiu-se para o Chile para integrar, em Santiago, a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão das Nações Unidas que se transformaria na única escola de pensamento econômico surgida no Terceiro Mundo.
Em 1950 escreveu o seu primeiro ensaio de analise econômica: Características gerais da economia brasileira, publicada pela Revista Brasileira de Economia, da Fundação Getúlio Vargas. Dois anos depois escreveria seu primeiro artigo de circulação internacional: Formação de capital e desenvolvimento econômico", traduzido para a International Economic Papers, da Associação Internacional de Economia.
Em abril de 1964, três dias depois do golpe militar de 31 de março, teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional Número 1 por dez anos, dando início, a partir de então aos anos de exílio político, retornando para o Chile.
Celso Furtado só retornaria ao Brasil pela primeira vez em 1968 a convite da Câmara dos Deputados. Mas a partir de 1979, com a anistia, passaria a viajar ao Brasil com freqüência. Retomou sua vida política e elegeu-se membro do Diretório Nacional do PMDB.
Depois de casar-se com a jornalista Rosa Freire d´Aguiar, foi nomeado embaixador do Brasil junto a Comunidade Econômica Européia, em Bruxelas. Veio a ser, ainda, ministro da Cultura do governo José Sarney e integrou a Comissão de Estudos Constitucionais, presidida pelo jurista Afonso Arinos, e que elaborou a nova Constituição brasileira.
Há dois anos, aos 82 anos, declarava continuava fazendo a mesma coisa de sempre: "ler e escrever".