Ao terminar o seu discurso no Congresso sobre o Estado da União, na noite de terça-feira, o presidente americano, Barack Obama, caminhou entre amigos e simpatizantes com sorriso amplo, entre apertos de mão e tapinhas nas costas. Mas durante o discurso, em que defendeu uma agenda inequivocadamente progressista, o presidente utilizou um tom muito diferente para "dar uma lição" aos adversários republicanos.
Primeiro, no campo econômico. A filosofia de Obama foi clara: só os investimentos e os gastos sociais são capazes de amparar a ascensão de uma classe média próspera. Foi um discurso detalhado, mas ao longo dele repetiu-se um coro simples: "Vamos fazer", "enviem-me uma lei", "eu a sancionarei", "votem".
Quem esperou um tom mais conciliador na esteira do seu discurso de posse, claramente agressivo, ficou decepcionado.
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Apelo
Obama lançou desafio após desafio aos seus oponentes. Advertiu que os cortes de gastos públicos programados para entrar em vigor a partir do próximo ano vão prejudicar a economia.
Pediu mais recursos para a educação pré-escolar, o ensino secundário e a qualificação de mão de obra. Anunciou um projeto de gastar US$ 70 bilhões (R$ 138 bilhões) na reconstrução de estradas e pontes. Pediu uma reforma tributária, a reforma das leis de imigração, o aumento do salário mínimo. E fez um apelo emocional pelo controle mais rigoroso das armas de fogo.
Se o foco do discurso, como já vinha circulando, foi a economia, o momento mais emotivo foi o refrão de Obama pelas vítimas das armas de fogo: "Elas merecem um voto", disse o presidente. A plateia o escutava de pé; muitos, às lágrimas.
Ainda paira uma questão: o apoio do Partido Democrata, mesmo o apoio da maioria dos americanos, não garante os votos na Câmara dos Representantes (Deputados) necessários para aprovar essa agenda. O discurso de Obama certamente pode ter retratado o Congresso como o vilão caso os legisladores não tomem uma atitude, mas isso não garante a vitória das propostas do presidente.
Efeito Rubio
Ao mesmo tempo, talvez o destaque não tenha sido a fala de Obama. O senador republicano Marco Rubio deu a resposta de seu partido ao discurso do presidente, surpreendentemente diferente de tudo o que tem sido dito de seu partido. Isso talvez seja uma medida do quão longe eles se afastaram daqueles que precisam atrair.
Filho de imigrantes cubanos, Rubio disse que estava se posicionando não pelos ricos, mas por seus vizinhos, por imigrantes e aposentados que dependem de pensões do governo e do Medicare - o programa de saúde do governo para americanos com mais de 65 anos.
Rubio disse que nunca iria prejudicar o Medicare - que deu dignidade a seu pai, que morreu de câncer, e do qual sua mãe depende atualmente. A mensagem de Rubio em favor de um governo menor e de impostos mais baixos é familiar ao discurso republicano. Mas o tom, o cenário e o apelo aos menos privilegiados realmente se destacaram, por terem sido tão diferentes de tudo que o candidato republicano à Presidência, Mitt Romney, disse durante a campanha.
Esta talvez seja a esperança para Obama: que os republicanos que sentem a necessidade de reformas prestem atenção a alguns de seus apelos por votos para seus planos.