O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou que uma recaída da economia internacional no curto prazo poderia provocar uma crise global pior do que a registrada em 2008. Segundo ele, vários fatores podem gerar essa recidiva da recessão global, como baixa capacidade de crescimento dos países centrais, política monetária tradicional no limite, elevado grau de alavancagem das economias e inação de autoridades, que não estão reagindo à altura para atacar a grande intensidade dos problemas atuais, sobretudo na Europa. "O mundo está passando por um momento bastante perigoso e extraordinário", comentou Fraga, que também é presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa.
Em palestra em São Paulo, Fraga citou dados compilados junto a um estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) que aponta que o nível de endividamento total dos países membros da OCDE, formado por famílias, empresas não financeiras e governos, atingiu o patamar de 172% do PIB desta nações em 1980, saltou para 246% nos anos 2000 e atingiu 306% do PIB em 2010. Ele ressaltou que os juros nos EUA estavam no patamar de 5,25% em 2006 e, hoje, estão em praticamente 0%, marca que também é registrada pelo Japão. "Juros a zero porcento indicariam que a economia está praticamente na UTI", afirmou. "O que assusta é que a última crise aconteceu no núcleo do sistema mundial", continuou.
O ex-presidente do BC mostrou-se pessimista com os fatos que se sucedem na Europa e não mostram solução rápida à frente. "A Europa não consegue encarar seus problemas. Há falta de liderança, é uma união incompleta, pois tem a união monetária e alfandegária unificadas, mas não tem união fiscal".
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Segundo Fraga, a Europa vive hoje um quadro mais ou menos semelhante ao registrado pelo Brasil até o final da década de 1990, quando os estados registravam crises e utilizavam seus bancos regionais para atenuar as dificuldades, mas, no fundo, o problema se avolumava com o autoendividamento, o que requeria, no final, o socorro do Banco Central.
Ele ressaltou hoje que os países da zona do euro registram baixo crescimento, passivos públicos muito elevados e há poucas indicações de que suas autoridades estão agindo com rapidez para atacar essas fragilidades estruturais. "O risco de isso piorar é altamente relevante", disse. "A Europa tem países muito diferentes, pois tem de um lado, Alemanha, do outro, Grécia, e de outro, a Itália". Fraga destacou que os problemas dos países europeus são tão sérios que os financiamentos emergenciais dos organismos internacionais cresceram sensivelmente nos últimos anos. "Na virada para o governo Lula (2002 para 2003), o Brasil recebeu US$ 30 bilhões, o equivalente a pouco menos de 5% do PIB. Hoje, na Europa, alguns países já receberam ajuda de, pelo menos, 60% do PIB".
Por outro lado, Fraga destacou que, apesar de alguns países terem recebido elevados níveis de subsídios para serem incorporados à zona do euro, eles cresceram muito pouco. "A média de expansão de Portugal, desde 1999, é de quase 0%", exemplificou.
Em função da desaceleração da economia mundial, que também já colabora para a redução do nível de atividade do Brasil, Armínio Fraga afirmou, em palestra a empresários, para que eles tenham cautela nas suas ações corporativas no próximo ano. "Eu não contaria que 2012 será um ano muito exuberante. É preciso um pouco mais de cautela. O mar não está para peixe", completou.