As manifestações dos estudantes secundaristas contra o aumento do preço da passagem de ônibus em Salvador (BA) ganharam hoje mais força --alunos das principais escolas particulares, cursinhos e faculdades aderiram ao movimento, iniciado na segunda-feira.
No começo da noite, o prefeito Antonio Imbassahy (PFL), 53, admitiu que estuda a possibilidade de redução das tarifas de ônibus. "Na próxima segunda-feira, vou me reunir com os empresários e técnicos da prefeitura para discutir o assunto." De acordo com os estudantes, a mobilização continua, até que a tarifa seja reduzida.
Com a mesma tática --ações simultâneas em vários pontos da cidade--, os estudantes conseguiram, pelo quinto dia consecutivo, paralisar completamente o trânsito nas principais regiões da capital baiana. A PM, por determinação do governador Paulo Souto (PFL), 59, apenas acompanhou o movimento.
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Manifestação
Para conquistar a "simpatia" da população, pela manhã, os estudantes liberaram a passagem de carros pequenos --apenas os ônibus eram retidos. Depois do bloqueio, os manifestantes percorriam os pontos para convocar os passageiros de cada linha.
No final da manhã, no Tororó --uma das principais áreas turísticas de Salvador--, cerca de 2.000 estudantes bloquearam a pista durante 40 minutos para fazer uma caminhada. No percurso, cantaram o Hino Nacional e gritaram palavras de ordem.
Em Ondina (orla), os estudantes distribuíram água e sal para os passageiros que passaram mal durante longa espera.
Tarifa
Motorista de ônibus há 30 anos, Adorjival Segundo Fonseca, 50, disse que apoia a manifestação. "Os estudantes estão demonstrando que o povo, unido, pode conseguir muita coisa." No final da manhã, Fonseca permaneceu parado durante quase duas horas em um bloqueio na avenida Garibaldi (centro).
"Recebo R$ 860 por mês para trabalhar como motorista de ônibus e sei das dificuldades que enfrento, mesmo sem pagar o transporte. Quem paga passagem de ônibus todos os dias para trabalhar ou estudar e ganha pouco não tem mesmo como sobreviver."
Reações
Ao entrar no quinto dia, os manifestantes começaram a enfrentar insistentes reações por parte da população. "Não dá mais para aceitar tanta baderna. A cidade não tem comando, não tem nada. Tudo está nas mãos de um grupo de estudantes infiltrados em partidos políticos de esquerda", disse a comerciante Joseana Santana, 35.
Sem ônibus, muitas escolas, faculdades e cursinhos simplesmente suspenderam as aulas hoje, o que engrossou o movimento. "Não dá para ter aula sem aluno ou professor. Ninguém tem condições de chegar à escola", disse a professora Madalena Fernandes da Cunha, 38, que trabalha em uma escola localizada na periferia da capital baiana.
Também revoltada, a vendedora Kátia Cristina dos Santos, 32, reclamou do caos registrado em Salvador, a terceira maior cidade do Brasil.
"Saí de casa para trabalhar às 7h e somente consegui chegar às 11h30", disse Santos, que trabalha em uma livraria localizada no centro. Em dias normais, o percurso é feito pela vendedora em 40 minutos.
Interdição
Na região do Iguatemi (centro), o principal ponto das manifestações, estudantes repetiram hoje o mesmo ritual para bloquear carros --ficaram sentados ou deitados nas pistas.
Desde que o movimento começou, os estudantes conseguiram que duas reivindicações fossem atendidas pela prefeitura --utilização da meia passagem durante todo o ano e o congelamento da tarifa básica até setembro do próximo ano.
Segundo o sindicato da categoria, 35 milhões de passageiros são transportados de ônibus todos os meses em Salvador. Do total, 20% (7 milhões) são isentos do pagamento da tarifa. Entre os que não pagam estão policiais militares fardados, idosos e carteiros.
Informação Folha Online