Congonhinhas - Alvo de disputa entre herdeiros durante 15 anos, na Justiça, uma fazenda em Congonhinhas (55 km ao sul de Cornélio Procópio) foi invadida por agricultores sem-terra antes que a vencedora da ação judicial conseguisse tomar posse da área.
O que seria a realização de um sonho para Rosalina Lima da Silva Medeiros, de 53 anos, se transformou em pesadelo: há cerca de 15 dias, 28 agricultores de Joaquim Távora, Santo Antônio da Platina, Guapirama, Colorado, Rancho Alegre, Mandaguaçu e outras cidades das regiões Norte e Norte Pioneiro entraram na Fazenda Serra Grande. Os invasores dizem pertencer ao Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast).
A disputa pela propriedade começou em 1988 depois da separação de Rosalina e o dono da fazenda, Nelson Galdino Ribeiro, falecido em 1994. Rosalina, que viveu com Galdino durante 14 anos, apesar de nunca terem oficializado o relacionamento, foi em busca de seus direitos depois da separação. Segundo ela, os dois ''ergueram'' a fazenda juntos. ''Nós desbravamos aquilo tudo, começamos a criar gado de corte e eu cheguei a cozinhar 40 marmitas por dia para os peões. Foi um período difícil'', lembra.
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O casal não teve filhos. A disputa pela fazenda foi entre Rosalina e os cinco filhos do casamento anterior de Galdino. A batalha judicial passou por todas as instâncias, todas ganhas por Rosalina. Em dezembro de 2001 ficou determinado que ela teria direito a 50% das terras da fazenda, o equivalente a 580,8 hectares. Como parte da propriedade já havia sido vendida, os filhos ficaram com 217,8 hectares.
No final de fevereiro deste ano, uma audiência foi realizada na tentativa de chegar a um acordo com os herdeiros e proceder à demarcação da área, pois só assim Rosalina teria a escritura da fazenda. Por causa de um outro processo de prestação de contas, os herdeiros pediram 30 dias de prazo para o acordo final. ''Eu queria um ponto final nessa história e aí vieram os sem-terra'', lamentou Rosalina.
O que a agricultora não entende é o motivo de uma invasão justamente na Fazenda Serra Grande, já que a área é de difícil acesso, o terreno é acidentado e não é adequado para plantio. ''A gente sempre ouve falar que os sem-terra procuram locais bons para plantar, mas lá é uma área montanhosa, boa para criar gado, só em alguns pedaços dá para plantar milho e feijão'', afirmou.
Rosalina não entende também o motivo da invasão ter ocorrido justamente quando ela estava para tomar posse de sua parte da fazenda. Mas não quer ''criar confusão'' ou fazer denúncias que não possa provar, por isso não faz suposições sobre a invasão.
Como ainda não tem a escritura, Rosalina não pôde dar queixa na polícia sobre a invasão da propriedade, como também não pôde entrar com pedido de reintegração de posse. Quem pode fazer isso é o inventariante, José Carlos Caldi, casado com uma das filhas de Nelson Galdino. ''Eu pretendia morar na fazenda, comprar gado, mas se for da vontade de Deus, eles (os sem-terra) vão entender que ali não é o lugar deles e vão arrumar outro lugar'', desabafou.
O advogado do inventariante, Pedro de Oliveira, informou que ''provavelmente deverá ser tomada uma providência'' contra a invasão, mas não sabe quando isso será feito. ''A atitude judicial agora é um pedido de reintegração de posse'', afirmou.