O ex-secretário de Fazenda de Maringá Luiz Antônio Paolicchi está aproveitando os momentos de solidão na cela da Polícia Federal para concluir um livro sobre a história dele.
Apontado como um dos principais responsáveis pelo esquema que levou da Prefeitura de Maringá cerca de R$ 100 milhões, o ex-secretário é o único dos acusados por corrupção que está preso desde dezembro de 2000.
Nos bastidores da política de Maringá, a informação sobre o livro do ex-secretário fez acender a luz vermelha. ''Se ele (Paolicchi) decidir citar nomes que até agora conseguiram passar ilesos da promotoria, o livro vai causar o mesmo efeito de um terremoto na classe política e na dita alta sociedade desta cidade'', disse, nesta sexta, um observador político que pediu para não ser identificado com receio de polêmica.
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Mas, segundo o advogado de Paolicchi, Moisés Zanardi, o livro não é tão devastador assim. ''Se ele (Paolicchi) fosse escrever tudo o que viu e passou antes e depois de ser preso a história não caberia em um livro e no dia seguinte haveria mais de 30 ações contra o meu cliente'', disse o advogado.
Zanardi afirmou que os relatos do ex-secretário estão passando por um crivo jurídico. ''Estou censurando mesmo porque não adianta falar de alguém sem provas'', disse o advogado.
O livro que até agora tem cerca de 300 páginas contém relatos dos bastidores do poder de Maringá, dos momentos de cárcere, além de uma biografia do ex-secretário. Paolicchi decidiu colocar no papel todas as experiências vividas na prisão - os dois primeiros anos foram em um quarto do Batalhão da Polícia Militar - e descrever os pontos negativos e positivos da Justiça. As experiências dos dias que antecediam os interrogatórios e de como era procurado pelas pessoas ''preocupadíssimas'' com o que ele teria para falar também vão fazer parte da narrativa.
Segundo Zanardi, além da análise jurídica, o livro está sendo revisado por dois jornalistas de fora de Maringá que seriam amigos pessoais de Paolicchi.
O ex-secretário teria começado a escrever o livro em abril de 2000, logo após a saída dele da prefeitura e período em que começaram as investigações da Procuradoria da República. Foi em setembro de 2000, que a procuradoria divulgou a confirmação sobre os desvios de dinheiro na Prefeitura de Maringá.
Paolicchi coloca ainda no livro toda a história do poder político desde quando entrou na prefeitura, em 1981 como contador. Em abril de 1985, foi promovido ao cargo de gerente da Contabilidade e em 1995, assumiu pela primeira vez a pasta como secretário.
Entre 1995 e 2000, Paolicchi alternou entre os cargos de secretário e diretor de Fazenda. Ele era considerado um ''expert'' em finanças públicas e de conhecimentos essenciais no Tribunal de Contas.
Para preparar o livro, o ex-secretário já teria escolhido uma editora de Minas Gerais e um escritor de renome nacional para ''reescrever'' e organizar a obra.
O lançamento só vai ocorrer quando o secretário deixar a prisão. Se a Justiça Federal mantiver a condenação em 11 anos, o ex-secretário só será liberado condicionalmente em maio do próximo ano.
Os bens amealhados pelo ex-secretário, como uma mineradora, carros importados, imóveis luxuosos e um jatinho, foram o chamariz das investigações que resultaram em uma série de processos civis e criminais envolvendo mais de 50 pessoas, entre ex-prefeitos, ex-secretários, ex-servidores, empresários, doleiros e laranjas.
Só na esfera criminal, onde o ex-secretário tem uma condenação de 11 anos por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, formação de quadrilha e peculato, são seis processos. O ex-prefeito Jairo Gianoto é o principal parceiro do ex-secretário nas ações civis que tentam o ressarcimento do dinheiro levado da prefeitura.