Com a chegada do verão, o número de pessoas que buscam praias, rios, lagos e até cachoeiras aumenta significativamente. Seja para se encontrar uma alternativa ao calor ou para conhecer uma nova paisagem, muitos veranistas desconhecem que ali pode estar guardado um grande perigo: nem sempre as águas são profundas o suficiente para um mergulho. Por isso, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) alerta para que a população, especialmente os banhistas que estão no litoral, tomem cuidado com locais de águas rasas a fim de evitar acidentes.
Segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, o risco de lesões por mergulhos em águas rasas no país é de 0,3 para cada 100 mil habitantes. Em 67% dos casos, estas lesões resultam no óbito do acidentado antes mesmo que ele possa chegar a um hospital. No Paraná, em 2016 foram registradas quatro internações derivadas de acidentes por pulo ou mergulho. Já em 2017, mesmo com dados preliminares, este número dobrou e o estado já registrou oito casos.
A médica especialista em afogamentos, Lúcia Eneida Rodrigues, que atua no Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, explica que o grande problema é que a população não enxerga a gravidade do perigo que um mergulho em águas rasas pode causar. "As pessoas só se previnem de algo que acreditam ser um problema e, infelizmente, não enxergam isso como um problema", disse.
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Em seus 22 anos de profissão atuando como intensivista, infectologista e hiperbárica no litoral paranaense, Lúcia afirma que todo ano fica sabendo de pelo menos um caso onde alguém se acidentou tentando mergulhar em águas rasas. Para ela, um dos segredos para contornar esta situação, é o conhecimento.
"A maioria dos acidentes ocorre por falta de conhecimento do local ou por ignorar regras básicas, como consultar um guarda-vidas e prestar a atenção à sinalização do local. Nem todos que vão a locais mais afastados, como cachoeiras e pedras, por exemplos, sabem se nadar o suficiente para não correr riscos de afogamento nestes lugares. Além disso, as marés e os rios sobem e descem constantemente, o que altera a profundidade das águas e aumenta ainda mais as chances de acidente", enfatizou a médica.
Relato
Logo após o réveillon de 2006, Renan Aparecido de Oliveira decidiu repetir um hábito de todos os anos. Morador de Praia de Leste, foi com seu irmão, Rodrigo Henrique de Oliveira, à praia pular as sete ondas para celebrar o ano novo que estava por vir.
Renan, que recém havia completado 19 anos, conhecia o local como a palma de sua mão, pois havia crescido nas praias do litoral. Entrou no mar e quando pulou a primeira onda, sumiu no mar.
"Na hora entrei em desespero. Eu e meus pais começamos a vasculhar a praia para ver se encontrávamos o Renan. Só o achamos cerca de 40 minutos depois, já sendo atendido por uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Por sorte, um médico que também estava na praia o encontrou desacordado e chamou os guarda-vidas", relatou o irmão, Rodrigo.
Renan sofreu traumatismo raquimedular. Acredita-se que quando pulou a onda, desequilibrou e bateu com a cabeça na areia. Foram dois anos de tratamento. Neste período, as idas e vindas ao hospital pioraram seu estado, fazendo com que desenvolvesse uma úlcera por pressão e fosse obrigado a usar bolsa de colostomia. Estas complicações fizeram com que pouco tempo depois, Renan viesse a falecer.
"Eu demorei muito para entender e aceitar o que aconteceu. Foi algo aparentemente bobo. Nem eu nem meus pais conseguimos mais viver no litoral após a perda. As pessoas precisam entender que na praia, em pedras, cavas, cachoeira, todo cuidado é pouco. E o prejuízo é muito grande pra você se arriscar. Não apenas para quem sofre o acidente, mas para quem está em volta, como família e amigos", alertou Rodrigo.