Preso há 4 meses, o auditor da Receita Estadual de Londrina, Luiz Antonio de Souza apontou, em vários depoimentos que integram o acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP) prestados nos últimos 15 dias, o envolvimento do atual coordenador da Receita Estadual do Paraná, José Aparecido Valêncio da Silva, no esquema de cobrança de propina de empresários e sonegação fiscal descoberto pela operação Publicano, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em 20 de março.
Outro nome citado, conforme apurou a FOLHA, foi o do ex-inspetor de fiscalização da Receita de Londrina, Jaime Kiochi Nakano, que hoje trabalha em Curitiba, segundo o Portal da Transparência do governo do Estado. Seu último salário foi de R$ 32,6 mil; Valêncio, que é auditor concursado há cerca de 20 anos, recebeu R$ 24,5 mil em maio. A participação dos dois teria sido detalhada nos depoimentos de Souza.
O advogado do delator, Eduardo Duarte Ferreira, não mencionou nomes, mas disse que parte da propina arrecadada em Londrina ia para Curitiba. "Não posso revelar nomes, mas, segundo meu cliente, pelo menos 10% do que os fiscais arrecadavam ia para a Inspetoria-Geral de Arrecadação em Curitiba", afirmou.
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Em entrevista, Valêncio afirmou que não participou de qualquer ato ilícito e, que desconhecendo o teor da delação de Souza, não poderia acrescentar outras informações. Nakano, que segundo Valêncio, atualmente está à disposição da Secretaria Estadual de Fazenda (ele não está lotado na Coordenadoria da Receita), não foi localizado ontem pela FOLHA.
Por meio da assessoria de imprensa, o secretário estadual de Fazenda, Mauro Ricardo Machado Costa, afirmou que todas as denúncias contra servidores serão investigadas e, se houver comprovação, os responsáveis serão punidos, "doa a quem doer".
A delação
Nos depoimentos, Luiz Antonio de Souza, que responde a processos por envolvimento no esquema de exploração sexual, declarou que R$ 2 milhões arrecadados em Londrina foram para a campanha de reeleição de Beto Richa (PSDB), em 2014; detalhou como era feito o achaque aos empresários e a distribuição dos frutos da corrupção – parte ficava com o auditor que arrecadava e parte com o delegado regional e com o inspetor regional, além do que ia a Curitiba; disse que mais 35 auditores de Londrina estão envolvidos; que esquema semelhante abrangia 12 das 14 delegacias regionais do Paraná; e que em 10 anos o grupo criminoso recebeu mais de R$ 50 milhões em propina.
O MP já acusou 62 pessoas pela organização criminosa na Receita, sendo 15 auditores. A 3ª Vara Criminal de Londrina já recebeu a denúncia e, em breve, as testemunhas começarão a ser ouvidas. "Segundo a ótica do meu cliente, a denúncia deve receber pouquíssimos retoques", afirmou Ferreira, acrescentando, porém, que os fatos novos devem ser apurados pelo Gaeco e se transformar em outras denúncias, abrangendo novos réus. "O Ministério Público e o Gaeco estão analisando todas as informações trazidas pelos acordos de delação premiada", disse o promotor de Defesa do Patrimônio Público, Renato de Lima Castro, referindo-se aos acordos de colaboração de Souza e de sua irmã, a também auditora Rosângela de Souza Semprebom.