O presidente da CPI da Telefonia, deputado Tony Garcia (PPB), disse que recebeu ontem cinco fitas cassete que seriam cópias de escutas telefônicas clandestinas, contendo conversas entre diferentes donos de jornais paranaenses. As gravações também conteriam diálogos entre as redações de diversos veículos de comunicação. As fitas, com cerca de 15 minutos de duração, foram todas entregues de forma anônima e acompanhadas de pequenos bilhetes, explicando o conteúdo.
Segundo Garcia, os grampos poderiam ter sido feitos a mando do Palácio Iguaçu, com o objetivo de monitorar o comportamento da imprensa, tanto de empresários quanto de jornalistas, em relação ao governo. "Pelo menos é o que se pode imaginar com base nas denúncias do cabo Jordão", disse, referindo-se ao cabo Luiz Antonio Jordão. "Devem querer saber quem é contra e quem é a favor do governo", opinou o deputado, sem citar os nomes de veículos que teriam sido alvo de grampos. As conversas, segundo ele, referem-se principalmente ao período pré-eleitoral do ano passado.
Em entrevista à Folha, Jordão declarou ter sido afastado em 1999 do Serviço de Inteligência da Casa Militar (no qual trabalhou desde 95), porque descobriu um esquema interno de escuta clandestina. Ele revelou detalhes de como a escuta era feita e responsabilizou representantes do primeiro escalão do governo Jaime Lerner (PFL) de acobertarem um esquema interno de espionagem.
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Garcia disse que vai enviar as fitas para a Universidade de Campinas (Unicamp), para perícia. Antes de divulgar o conteúdo do material, ele quer saber se não foram feitas montagens. "Temos que agir com muita cautela, para não transformar o caso em sensacionalismo e desmerecer nosso trabalho". O deputado também levantou a hipótese do material se tratar de contra-informação, para despistar a CPI. "Por isso é necessário que antes se comprove a veracidade do material". Ele disse que ainda não tem como saber se as gravações teriam sido feitas a mando do Palácio Iguaçu. "Precisamos investigar para chegar ao mandante". O pepebista disse que não vai ceder a ameaças. "Não vou deixar essas apurações morrerem, doa a quem doer".
Tony Garcia disse que o diretor do jornal Gazeta do Paraná (de Cascavel), Marcos Formighieri, se dispôs a depor na comissão. "O empresário Marcos Formighieri nos disse que o Palácio Iguaçu tinha conhecimento do teor de uma conversa que ele havia tido com o senador Roberto Requião (PMDB) em 1998", revelou o deputado. A intenção da CPI é ouvir Formighieri na próxima semana. O jornal Gazeta do Paraná enfrenta uma disputa judicial com o secretário da Comunicação, Rafael Greca.
Formighieri foi procurado ontem pela Folha, mas não retornou os recados até o fechamento desta edição. A Folha conversou com o irmão dele, João, que conformou que Marcos Formighieri realmente está disposto a depor na CPI. O senador Roberto Requião disse que qualquer conversa sua pode ser transmitida para o Paraná inteiro. "Tudo que falo pode ser ouvido por todos".