Pelo menos R$ 1,84 milhões obtidos pelas campanhas eleitorais de 2008 chegaram nas contas dos candidatos pela chamada ''doação oculta'', doações feitas por empresas a partidos, mas que acabam nas contas dos comitês eleitorais. A informação foi obtida pela FOLHA por meio do cruzamento de dados das prestações de contas dos partidos com os dados apresentados pelos candidatos à Justiça Eleitoral.
''Isso impede que o eleitor saiba de fato quem está por trás dos candidatos. São informações essenciais para o processo eleitoral'', critica o secretário-geral da organização Contas Abertas, Gil Castello Branco. Para Branco, os verdadeiros doadores das campanhas ficam ocultos porque há um descompasso entre as regras de prestação de contas para os partidos e para os candidatos. ''O candidato tem que apresentar as contas logo após a eleição, mas o partido só presta contas em abril do ano seguinte'', explica.
As ''doações ocultas'' financiaram as disputas eleitorais nas principais cidades do Estado: Curitiba, Londrina e Maringá. A reportagem da FOLHA comparou as datas e valores de doações recebidas pelos partidos com as datas e valores de transferências feitas pelos partidos para candidatos. O PMDB, por exemplo, apresentou cinco doações com as características de serem ocultas. Caso de uma doação de R$ 100 mil feita pelo Banco Alvorada ao partido em 23 de setembro de 2008. No dia seguinte, o mesmo valor foi transferido pelo PMDB-PR para Carlos Augusto Moreira Júnior, candidato da legenda à Prefeitura de Curitiba.
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O PMDB do Paraná admite a existência de ''doações carimbadas'' no partido. ''A empresa prefere doar assim porque fica tudo registrado'', explica o presidente do partido, deputado Waldyr Pugliesi.
No PT, as transferências que apresentavam a mesma coincidência - entraram num dia e foram repassadas no outro para o candidato - foram quase que totalmente feitas para Gleisi Hoffmann, então candidata a Prefeitura de Curitiba. Também foi contemplado com recursos do partido o deputado estadual Ênio Verri, na época candidato a prefeito em Maringá. A campanha de Verri recebeu R$ 100 mil que aparentemente foram doados pela Crandon Consultoria no dia 9 de setembro de 2008 para o PT e transferidos para o candidato no dia seguinte.
Verri, que é o atual presidente do partido no Estado, explica que a decisão sobre qual candidato irá receber os recursos é da Executiva Estadual. ''Isso vai depender do projeto que o partido tem para o Paraná'', aponta. Ele nega que existam no partido ''doações carimbadas'', ou seja, aquelas que empresa faz ao partido, mas determina para qual candidato quer que ela seja destinada.
Segundo o parlamentar, a doação encaminhada para ele em 2008 foi destinada assim ''porque em Maringá a disputa era viável''. ''Isso é legal, não vejo problema nenhum nesse tipo de doação'', completa.
Londrina
Em Maringá, outro candidato que recebeu ''doações ocultas'' foi Silvio Barros (PP), que se elegeu prefeito. O PP transferiu R$ 100 mil para Barros no dia 27 de agosto de 2008 depois de receber uma doação no mesmo valor do Alvorada Cartões cinco dias antes. O PP também transferiu doações para Antônio Belinati, que disputou a Prefeitura de Londrina. A campanha de Belinati recebeu R$ 100 mil no dia 3 de outubro de 2008, dinheiro que havia sido doado ao partido pela Revita Engenharia no dia anterior.
Segundo o presidente do PP no Paraná, deputado federal Ricardo Barros, o partido recomenda às empresas que doem diretamente para os candidatos. Quando o dinheiro vai para o diretório estadual, conta, a decisão sobre o destino dele é da Executiva. No casos das transferências para os candidatos do partido em Londrina e Maringá, Barros diz que a decisão do partido priorizou a disputa nessas cidades ''porque são o segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do Estado''.
A FOLHA entrou em contato com as empresas citadas nesta reportagem. Apenas o Banco Bradesco, que é proprietário do Banco Alvorada, respondeu às indagações da reportagem. ''O Bradesco contribui para os partidos políticos observando todos os aspectos legais'', informou por meio da assessoria de imprensa.