No primeiro embate velado desde que inverteram os papéis no Senado, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), defendem candidatos diferentes para comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Renan e Eunício têm estratégias distintas para os trabalhos do mais importante colegiado do Senado. É por ali que passarão as sabatinas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a ser indicado pelo presidente Michel Temer, nos próximos dias, e do novo procurador-geral da República, que deve ocorrer em setembro.
A disputa pelo comando da comissão foi tamanha na semana passada que, apesar de os peemedebistas terem feito três reuniões, não houve consenso para a escolha do nome. Para evitar que a briga fosse a voto na bancada do PMDB, no mesmo dia da eleição de Eunício, a decisão adiada para esta semana, provavelmente nesta terça-feira (7).
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Alvo de mais de dez inquéritos no Supremo, incluindo os da Lava Jato, Renan defende o nome de Edison Lobão (PMDB-MA), outro investigado, para comandar a CCJ. Sem medo de polêmica, o ex-presidente do Senado pretende reativar ali o debate sobre o projeto que pune abuso de autoridade por parte de juízes, procuradores e promotores.
Vista pelo Ministério Público e também pelo Judiciário como retaliação às investigações da Lava Jato no Senado, a proposta foi a principal bandeira de Renan no fim do ano passado. À época, ele tentou pôr o projeto em votação no plenário, sem sucesso. Agora, avalia que Lobão, mesmo diante de críticas, não se furtaria a comprar briga na CCJ.
Eunício, por sua vez, defende o nome do senador Raimundo Lira (PMDB-PB), ex-presidente da Comissão do Impeachment. De perfil discreto, Lira não apareceu, até o momento, em qualquer citação da Lava Jato e, de acordo com seus amigos, não mexeria no "vespeiro" do abuso de autoridade.
O receio do novo presidente do Senado é de que uma agenda como essa o ponha na mira do Ministério Público, como ocorreu com o próprio Renan, no ano passado, quando foi alvo de pedidos de prisão e afastamento do cargo. Eunício não responde a inquérito na Lava Jato, embora já tenha sido citado em delações, como a do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que o acusou de receber R$ 2,1 milhões de propina para defender interesses da empreiteira. Ele nega.
Na última semana, Lira relatou que se sentiu prejudicado pela atuação de Renan na disputa. "Eu deixei de fazer todo o trabalho de articulação antecipado porque o senador Renan me pediu para ficar com a liderança. Mas, na última semana, ele mesmo assumiu o cargo (de líder do PMDB no Senado) e apresentou novo indicado para a CCJ."
Concorrentes
Além de Lobão e Lira, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) também quer presidir a CCJ, mas seus colegas de partido dizem que ela não apenas não tem chance como não aceitaria esse jogo político. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.