A reunião dos 27 governadores, que acontecerá nesta segunda-feira em Brasília tem um forte componente político neste momento de fragilidade do governo federal: eles tentam restabelecer, ainda que informalmente, a antiga política dos governadores em que todos se unem, independentemente de partido, para mostrar força e pressionar o Executivo Federal.
Além de pôr em debate as mazelas que incomodam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva invasões dos sem-terra, desemprego recorde e problemas de segurança pública os governadores elegeram como prioridade para os Estados mudar a base de cálculo de seus débitos para com a União. Eles, porém, negam a disposição de confrontar com o Palácio do Planalto ou de pedir a renegociação dos contratos e das dívidas.
''Não queremos acuar o governo federal nem fazer uma reunião contra o Planalto, mas também não se ajuda o País com Estados esfacelados'', diz o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), assustado com os números da dívida mineira.
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Em janeiro de 1998, afirma, Minas devia ao Tesouro R$ 14,8 bilhões e, depois de pagar R$ 7,3 bilhões, entrou em 2004 com uma dívida de R$ 31,4 bilhões. ''Desse jeito nenhum Estado é viável'', desabafa Aécio que, em sua passagem pelo Planalto no início da semana, tentou acalmar o presidente e os ministros políticos, todos preocupados com a pressão dos Estados sobre o governo federal.
''Os governadores não podem se reunir para cada um tirar sua lasquinha da União'', adverte o governador do Acre Jorge Viana (PT), fiel aliado do presidente Lula, que passou os últimos dias articulando o encontro para evitar o enfrentamento com o Planalto.
''Já falei com o Aécio e com vários outros colegas para que possamos encontrar um ponto de equilíbrio nesta reunião'', conta Viana, para quem o tom não pode ser de reivindicação nem de concorrência com o governo federal, mas de colaboração. ''Temos que pensar o País e foi isto que ouvi de Aécio.''
''O que se quer é retomar o diálogo e buscar saídas que garantam a governabilidade'', ressalta o governador do Ceará, Lúcio Alcântara. Ainda assim, o Planalto está apreensivo porque há muita irritação contra o governo. ''Embora ainda controlável, o clima é tenso e de irritação'', admite.
Nas conversas de bastidores, vários governadores de partidos aliados e de oposição admitem que o avanço da articulação dos Estados é natural, na medida em que o governo federal se fragiliza.
Em uma demonstração de boa vontade, os governadores querem aproveitar a questão da reforma agrária para demonstrar solidariedade ao Planalto. Ao cobrar uma ação mais eficaz do governo federal na questão agrária e mais pontualidade nos repasses de recursos para a segurança pública, os governadores também farão reparos à atuação dos movimentos dos trabalhadores sem-terra, com as sucessivas invasões promovidas pelo MST em todo o País.
Boa vontade à parte, até o petista Viana reconhece que está encerrada a fase do debate das reformas estruturantes para o País. Agora, a agenda é de governança. ''Estamos todos no mesmo barco, ou alguém imagina que o governador do Piauí, Wellington Dias (PT) está satisfeito com o comprometimento de 20% da receita líquida do Estado com o pagamento de dívidas à União?'', indaga o governador Germano Rigotto (PMDB-RS).