Um dos interlocutores mais próximos da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, considerou "inusitado" o processo de "impeachment-relâmpago" que levou à saída de Fernando Lugo do poder paraguaio. Carvalho, no entanto, evitou se referir à queda de Lugo como "golpe".
Conforme anunciado no domingo pela chancelaria argentina, o Paraguai está suspenso da reunião de cúpula do Mercosul marcada para esta semana em Mendoza. A presidente Dilma Rousseff se reuniu pela manhã com os ministros Antonio Patriota (Itamaraty) e Celso Amorim (Defesa) para tratar do cenário no país vizinho.
"O governo brasileiro já manifestou o protesto, a nossa discordância simplesmente pelo fato de não ser respeitado aquele princípio fundamental em qualquer julgamento, que é a defesa ampla, todo direito de defesa. De fato, você mudar o presidente de um país num período de 24, 30 horas, é de todo inusitado. Há uma insurgência de todos os países contra essa questão, mas acho que agora a presidenta, os outros países em conjunto, vamos com maturidade tomar uma posição", afirmou Carvalho a jornalistas, antes de participar de evento com servidores no Planalto.
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Questionado se a saída de Lugo foi um golpe, o ministro respondeu: "Não posso, não quero adjetivar. O governo brasileiro manifestou protesto contra o processo, a história do adjetivo a gente tem de tomar cuidado nessa hora até por respeito também ao outro governo."
O ministro defendeu a realização de discussões dentro do âmbito do Mercosul e da Unasul para construir um consenso em torno da questão. "Pra nós, é muito importante valorizar o Mercosul e a Unasul, e trabalharmos em conjunto com os países. Estamos evitando tomar qualquer medida que não seja construída num consenso com esses outros países."
Para Gilberto Carvalho, o episódio no Paraguai vai na contramão do histórico recente da América Latina que, na avaliação do ministro, trilha um caminho democrático.
"Nossa grande alegria dos últimos tempos é o fato de termos superado na América Latina aquela tragédia dos regimes totalitários. (Vemos) A implantação da primeira democracia, vários países caminhando pra democracias populares com governantes populares, o que se esperava era um caminho numa outra perspectiva, de aprofundamento da democracia, não de restrição ao direito democrático de defesa, como foi o caso do Paraguai, por isso nossa estranheza e perplexidade", comentou.