Como a discussão é ampla, as opiniões são diversas até mesmo dentro da Segurança Pública. Para o secretário Cid Vasques, os últimos graves acontecimentos que tiveram grande repercussão apontam que a questão precisa ser discutida. Ele defende a necessidade de se fazer uma releitura histórica do instituto da maioridade penal.
''O adolescente entre 16 e 18 anos da época da entrada em vigor da Constituição (1988) ou do ECA (1990) não tem mais o mesmo perfil. Hoje ele tem muito mais acesso à informação do que antes. A rapidez do desenvolvimento dessa que é considerada ''pessoa em processo de formação'' não se compara à existente mais de 20 anos atrás'', reforçou o secretário de Segurança Pública.
Ele destaca ainda sua preocupação como "o sistema prisional imposto pelo medo ao cidadão de bem´´, que está transformando as casas das pessoas em verdadeiras prisões, com cercas elétricas e grades, por medo da violência. ''Meu posicionamento é o de reduzir a maioridade penal para 16 anos, em relação a todos os delitos. Quem pode votar para Presidente da República também deve ser responsabilizado por infrações penais que cometer. Esse não é um discurso radical, como muitos afirmam, mas sim um discurso coerente'', Cid Vasques.
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Para o delegado geral da Polícia Civil, Marcus Vinícius Michelotto, a redução da maioridade penal têm que ser discutida de uma maneira mais ampla porque o sistema prisional atual não comporta nem mesmo a quantidade de presos existente, e nem oferece recuperação adequada. ''A participação de adolescentes nos crimes está crescendo e é extremamente preocupante. E, em relação ao tráfico de drogas, por muitas vezes os menores são aliciados pelos adultos para que, caso sejam pegos, como as penas são menores, eles consigam sair das unidades em muito menos tempo", disse.
Entretanto, ressalta Michelotto, por mais que um adolescente de 16, 17 anos já conseguir discenir o que é certo e errado, não se pode punir colocando este jovem num sistema em que a situação é grave. "Antes de se discutir redução de maioridade, teria que ser feita uma reforma em todo o sistema penal. As medidas socioeducativas aplicadas no Estado são boas, talvez o que tivesse que ser discutido seja o período de internação e a tipificação por gravidade do crime", destacou.
O delegado geral ressalta ainda que, por isso, o foco de ação para combater crimes contra a vida envolve o microtráfico, que é onde ocorre a maioria dos homicídios. "Não que os grandes traficantes não sejam importantes, mas é que as ocorrências são maiores neste tipo de tráfico. E, com isso, conseguimos reduzir os índices de violência. Além disso, o adolescente, seja autor de um crime, ou mesmo um usuário, tem mais contato com o vendedor da droga", completou Michelotto.
O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná (PMPR), coronel Roberson Bondaruk compartilha da mesma opinião. Ele afirma que, apesar dos números apontarem um crescimento das ocorrências envolvendo adolescentes, reduzir a maioridade penal não seria a solução. ''É preciso rever toda a estrutura penal do País, não se combate uma evolução na quantidade de crimes somente prendendo. Grande parte da população se revolta e aponta que é dever prender todos os adolescentes que cometem crime sem perceber que o real problema é a falta de estrutura e de acompanhamento destes jovens desde pequenos'', alegou.
Por isso o comandante geral reforça a importância dos projetos das Unidades Paraná Seguro (UPS). No momento são trezes unidades instaladas em Curitiba (10) e outras em Cascavel , Londrina e Colombo. "Estas são ações que promovem a inclusão social e acredito que é um dos caminhos a serem seguidos. Não é um projeto de polícia, mas sim a oportunidade de levar até determinada comunidade uma série de serviços aos quais eles não tinham acesso, como educação, qualificação profissional, saúde, etc. Desta maneira estamos conseguindo reduzir os índices de homicídios nestas regiões, por exemplo", finalizou Bondaruk.