Foi filiado ao PT por quase seis anos o principal suspeito da violação de dados fiscais de Verônica Serra, filha do presidenciável José Serra (PSDB). Contador de profissão, Antônio Carlos Atella Ferreira ingressou na legenda em 20 de outubro de 2003. Em 21 de novembro de 2009 seu nome foi excluído.
A saída do partido ocorreu menos de dois meses depois de ter executado a trama e retirado da delegacia da Receita em Santo André cópias de declarações de renda de Verônica.
Atella, que ontem foi ouvido pela Polícia Federal, mas não indiciado, filiou-se ao PT de Mauá, 217.ª zona eleitoral. Situada na Grande São Paulo, Mauá é foco de outro escândalo que abala a Receita - de um computador da agência do Fisco na cidade foram acessados os dados tributários do vice presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e de outros tucanos.
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Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) Atella é classificado como formalmente "excluído" do partido. O TRE assinala que isso significa que a anotação de filiação foi retirada do cadastro de eleitores. Não significa desfiliação, apenas que havia algum dado divergente que o partido não corrigiu.
"Esse sujeito (Atella), em 2003, preencheu uma ficha e entregaram no cartório, mas havia uma inconsistência que era a grafia do nome", declarou José Eduardo Dutra, presidente do PT. "Essa pessoa nunca votou, nunca participou das questões internas do PT."
Ainda filiado ao PT, Atella deu entrada na Receita em Santo André com pedido de acesso às informações sigilosas de Verônica, no dia 29 de setembro do ano passado. Em 24 horas estava de posse da papelada.
Ele afirma que outro contador, Ademir Estevam Cabral, lhe entregou um lote com 18 pedidos de cópias de declarações de pessoas físicas e provavelmente o nome da filha de Serra fazia parte da relação. "Não olho nomes, vejo números, CPFs", diz o contador.
Quinta-feira, em entrevista, Atella admitiu ter sido filiado a um partido, mas não disse qual. "Estou com 62 anos, imagina se vou me lembrar da mamadeira que mamei."
Ontem, por três horas, Atella depôs na PF. Escreveu de punho próprio o nome da filha de Serra em uma folha de papel. Repetiu o gesto diversas vezes em ritual que tem finalidade técnica - a grafia de Atella será comparada em exame grafotécnico com a letra do falsário que adulterou a assinatura de Verônica. Além de escrever o nome de Verônica, ele teve de lançar sua assinatura várias vezes em outra folha.
Atella chegou à sede da PF às 10 da manhã, a pé, sem advogado, esbaforido, dizendo-se convencido de que "apenas exercitou seu trabalho profissional de contador e office boy de luxo". Às 13h saiu pela porta dos fundos e tomou o trem na estação da Lapa. "Peguei a documentação já preparada, não falsifiquei nada. Levei com a procuração (forjada de Verônica) e depois fui lá retirar. Eu protocolei, mas desconheço a falsificação." Não atribuiu a fraude a Cabral, mas reiterou ter dele recebido um lote de pedidos na ocasião.
Atella respondeu a dez perguntas enviadas pela PF em Brasília, onde está o inquérito. Disse que não conhece Verônica e "não sabia" que o nome dela fazia parte da pesquisa. Citou nomes de mais seis contadores e advogados para os quais trabalha. A PF indagou sobre seu relacionamento com analistas tributárias da agência do Fisco em Mauá que foram deslocadas para Santo André.