Com o afastamento por 45 dias de Renan Calheiros (PMDB-AL) da Presidência do Senado, o PT terá pela primeira vez sob o seu comando a Presidência da República e do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal). No período de afastamento de Renan, assumirá o primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC).
Mesmo que com tempo pré-determinado, uma hegemonia partidária como esta, após o fim da ditadura militar, só é comparada com a do PMDB no governo de José Sarney (1985-1989), quando o partido detinha o comando do Executivo e do Legislativo.
A alternância de poder na Câmara e no Senado só foi estabelecida nove anos após o início da redemocratização do país, em 1985. Entre 1991 e fevereiro de 1993, o Senado foi comandado por Mauro Benevides (PMDB-CE) e, na Câmara, Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
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"Embora interina, a presidência do Senado com Tião Viana não deixa de estar em sintonia com a vontade do povo brasileiro que por duas vezes consecutivas, ao votar no presidente Lula, votou em um projeto de mudanças sociais progressistas para o país. Acho que agora o Congresso vai entrar em uma fase de mais tranqüilidade", avalia o vice-líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE).
Não fosse uma composição de última hora para formar a atual Mesa Diretora do Senado, o PSDB teria hoje como presidente da Casa o senador Álvaro Dias (PR). No início do ano, na reunião que tratou deste assunto no gabinete do então presidente do Senado, Renan Calheiros, os tucanos abriram mão da primeira vice-presidência para o PT.
"Eles estão com o comando do Senado porque o PSDB foi generoso. Isso demonstra que um partido não deve abrir mão dos seus espaços. O PT não tem o tamanho necessário que lhe foi delegado pelas urnas para ocupar tanto espaço", afirma Álvaro Dias. O senador lembrou que o PT também comanda a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das mais importantes do Senado.
A tradição no Senado e na Câmara é que as presidências sejam ocupadas pelos partidos de maior representatividade. No governo Sarney, a reboque o Plano Cruzado, o PMDB tinha 22 governadores, perdendo apenas em Sergipe para o PFL, 260 deputados federais e 44 dos 81 senadores, o que lhe garantiu o comando político do país.
Com a Assembléia Nacional Constituinte (1987-88), o partido perdeu quadros com a debandada dos "autênticos" que fundaram o PSDB, entre eles, Mário Covas (SP), Franco Montoro (RS), José Richa (PR), Fernando Henrique Cardoso (SP) e José Serra (SP).
A partir de fevereiro de 1993, os comandos da Câmara e do Senado passaram a ser divididos por partidos diferentes na Câmara. Já no Senado, os peemedebistas só estiveram fora do cargo no período de 1997 à 2001, quando o pefelista Antônio Carlos Magalhães (BA) esteve a frente da Casa. Em 1993, o PFL que tinha uma das maiores bancadas, assumiu a Presidência da Câmara com Inocêncio Oliveira (PE). No Senado, foi eleito Humberto Lucena (PMDB-PB).
Para as legislaturas de 1995-1997, o PFL manteve a dobradinha com o PMDB tendo na Presidência da Câmara, Luis Eduardo Magalhães (BA). No Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi eleito para o cargo. Entre 1997 e 2001, a Câmara foi presidida pelo peemedebista Michel Temer (SP), por dois mandados. Já no Senado, o pefelista Antônio Carlos Magalhães (BA) esteve a frente da Casa, neste mesmo período.
O PMDB retomou o comando do Senado em 2001, quando elegeu Jader Barbalho (PA). Durante meses, o peemedebista travou uma briga com ACM que não o queria como sucessor. Já na Presidência, sob acusações de corrupção feitas pelo desafeto baiano, Jader foi obrigado, em 2001, a renunciar ao cargo para não ter o mandato cassado. Para o seu lugar, foi eleito o peemedebista Ramez Tebet (MS). Na Câmara, nesta mesma legislatura, a presidência foi ocupada pelo tucano Aécio Neves (MG).
Os petistas chegaram ao maior cargo de uma das Casas legislativas em 2003, com o comando entregue ao deputado João Paulo Cunha (SP). O Senado esteve sob o comando de José Sarney. Tanto João Paulo quanto Sarney tentaram, sem sucesso, aprovar em 2004, a emenda que permitiria a reeleição para as Mesas Diretoras do Legislativo.
Com isso, Renan Calheiros elegeu-se para o comando do Senado. O PT, que detinha a maior bancada da Câmara, em 2005, perdeu a presidência para Severino Cavalcanti (PP-PE) por causa de uma disputa interna entre os deputados Luis Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). Por causa de denúncias de corrupção, Severino renunciou ao cargo e foi substituido pelo comunista Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
O PT retomou a Presidência da Câmara este ano, com a eleição de Arlindo Chinaglia (SP), por causa de um acordo com os peemedebistas que, pela tradição, presidiriam as duas Casas por ter as maiores bancadas de deputados e senadores. Renan Calheiros, por sua vez, foi reconduzido ao cargo por se tratar de uma nova legislatura.
Abr