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Operação bilionária

Vendedor confirma à CPI negociação paralela de vacinas AstraZeneca

Folhapress
15 jul 2021 às 17:38
- Pedro França/Agência Senado
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O empresário Cristiano Carvalho relatou à CPI da Covid nesta quinta-feira (15) com foi a negociação por 400 milhões de doses da AstraZeneca, sem aval da fabricante, com a cúpula do Ministério da Saúde e a intermediação de militares e uma ONG evangélica.


Os detalhes da frustrada operação bilionária que teve entre os líderes o próprio Cristiano, representante da Davati Medical Supply e beneficiário do auxílio emergencial na pandemia, fortaleceram as investigações da cúpula da comissão e chegaram a constranger a base do presidente Jair Bolsonaro na sessão.

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Cristiano confirmou à CPI que foi avisado sobre um suposto pedido de propina durante as negociações. O cabo da polícia militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti revelou ao jornal Folha de S.Paulo que o ex-diretor de Logística da Saúde Roberto Ferreira Dias teria cobrado, em jantar no dia 25 de fevereiro, US$ 1 por dose para destravar o negócio com a Davati.

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"Primeira vez que veio diretamente a mim, sobre o nome do Roberto Ferreira Dias envolvido nisso foi, acredito eu, que no dia 12 de março, na minha vinda até aqui [Brasília]. Estávamos na Senah [ONG evangélica que participou das conversas]", disse Carvalho.

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A testemunha da CPI também disse que foi procurada e manteve conversas por WhatsApp, ou seja, fora dos processos formais da Saúde, com Dias.


O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), apontou "desconforto" com as conversas de membros e ex-funcionários do governo com os vendedores que nem sequer apresentavam provas sólidas de terem as doses em mãos.

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"Quero manifestar meu desconforto com diálogos que foram mantidos entre representantes da Davati com servidores públicos e ex-servidores públicos", disse Bezerra.


"A gente constata a falta de credenciamento, de capacidade técnica, de habilidade técnica para que esta empresa Davati, ou seus eventuais representantes, pudessem tratar com o governo brasileiro para eventual aquisição ou compra de vacinas", afirmou o líder de Bolsonaro no Senado.

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Cristiano ainda confirmou que as suas ofertas foram levadas a reuniões distintas com três membros da cúpula do Ministério da Saúde, além de seus auxiliares.


O empresário Herman Cardenas, dono da Davati, reconheceu em entrevista à Folha de S.Paulo que a empresa não tinha à mão nenhuma das doses oferecidas ao governo brasileiro. Ele afirmou que a empresa seria apenas uma facilitadora do negócio entre a fabricante e o ministério.

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Para os senadores, o relato de Cristiano reforça a tese de que o Ministério da Saúde abriu a porta para atravessadores com ofertas inviáveis por vacinas, enquanto rejeitava a compra de imunizantes diretamente com fabricantes como a Pfizer.


O líder do governo no Senado pediu que a CPI não responsabilize o governo por "atos praticados por um ou outro servidor".
Para o senador governista Jorginho Mello (PL-SC), a gestão Bolsonaro se livrou de golpistas. Ele também manifestou constrangimento pelos diálogos da Davati com o ministério, e pediu maior atenção da pasta.

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"Não é possível que pessoas que não representam nada, vendedores informais, tentaram dar um golpe no governo. Ainda bem que não saiu 'um pila'", disse Jorginho.


Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) cobrou que o governo responsabilize ao menos Elcio Franco, coronel da reserva, ex-secretário-executivo da Saúde e atual assessor da Casa Civil, que recebeu o grupo da Davati.

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"Eu sugiro, para o bem do país, um cidadão como Elcio Franco não pode estar na antessala do presidente mais. Não pode passar a mão em cima de uma pessoa que brincou com a vida de pessoas negociando vacinas fantasmas", disse Aziz.


O grupo de representantes da Davati ainda ofereceu 200 milhões de doses da vacina da Janssen ao ministério, em e-mail de 15 de março enviado a Elcio, mas a negociação não foi para frente.


A primeira agenda no ministério com representantes da empresa ocorreu em 22 de fevereiro, com o então diretor da Imunização e Doenças Transmissíveis, Lauricio Monteiro. Depois, em 26 de fevereiro, Dominghetti esteve com Dias na Saúde, na data seguinte ao jantar em que houve suposto pedido de propina.


A última reunião foi feita em 12 de março, quando o então secretário-executivo da Saúde, o coronel da reserva Elcio Franco, recebeu de Cristiano e seus parceiros a oferta da Davati.


Segundo o vendedor, Elcio não sabia das tratativas anteriores feitas com Dias. O militar e mais dois auxiliares presentes na reunião ficaram com "cara de paisagem", descreveu Cristiano. "Tipo assim: 'Não estamos sabendo o que está acontecendo aqui, dentro do ministério."'


Cristiano afirmou que parecia haver duas portas de entrada para negociar as vacinas na Saúde: Dias e Elcio Franco.


"Havia dois caminhos no ministério, aparentemente. Um era via Elcio Franco, e outro pelo Roberto Dias. O caminho que ele (Dominghetti) tentou via Roberto Dias aparentemente não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito, lá", disse Cristiano.


Ele afirmou que a conversa com Dias foi intermediada pelo coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do então diretor da Saúde. Para Cristiano, Blanco tinha posição "dúbia", pois parecia seguir assessorando o ex-chefe.


A testemunha da CPI chegou a negar que sabia do suposto pedido de propina. Primeiro, ele disse que soube, após o jantar de 25 de fevereiro, apenas que havia cobrança para "comissionamento" do grupo de Blanco e Odilon, um empresário que ele não soube informar o sobrenome.


Depois ele confirmou à CPI que ouviu, em 12 de março, sobre a suposta cobrança de propina feito no jantar com Dias.


Já a conversa com Elcio foi facilitada por Helcio Bruno, também coronel da reserva e presidente do Instituto Força Brasil, segundo Cristiano.


A intermediação entre a Davati e o governo ainda era feita pela Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), uma ONG evangélica presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paulo.


O grupo da Senah prometia amplo acesso ao governo federal, inclusive ao presidente Jair Bolsonaro e à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, conforme mensagens registradas no celular do policial militar.


Em áudios registrados no celular de Dominghetti, e recolhidos pela CPI, Cristiano mostra desconfiança sobre o grupo do reverendo. "Esses caras não são sérios, esse pessoal do reverendo é pilantra. Não tem acesso a ninguém, o reverendo não tem influência alguma com ninguém", disse ele em gravação de 5 de abril.


Cristiano ainda negou à CPI que orientou Dominghetti a expor áudio que cita o deputado Luis Miranda (DEM-DF), pivô de denúncias de irregularidades na compra da vacina Covaxin.


"Excelência, eu estava assistindo à oitiva dele aqui e vou ser bem sincero para o senhor: quando ele estava aqui no meu lugar, quando ele puxou o celular, colocou o áudio e apontou o Deputado, eu juro que eu quase tive um infarto porque eu falei: não tem nada a ver", afirmou Cristiano à CPI nesta quinta.


O depoente também disse que alertou o policial militar sobre o suposto equívoco, pois a gravação tratava de uma negociação de Miranda para a venda de luvas. "Dominguete, esse áudio do Luiz Miranda não se refere a vacinas", diz a mensagem enviada ao policial durante a reunião de 1º de julho da CPI.


Cristiano disse que foi chamado de forma "equivocada e folclórica" de CEO da Davati no Brasil por Dominghetti. Ele afirmou que tinha um acordo precário para representar a empresa no país, e que os negócios saíram do controle.


"(A negociação) Tomou uma dimensão bem grande, porque através do reverendo Amilton, que fez um grande trabalho com a representação de vacinas no Brasil, muitas prefeituras do Brasil inteiro, até estados, começaram a procurar a Davati para resolver a questão da falta de vacina", disse.


Segundo Cristiano, houve negociações com 4 consórcios de prefeituras, com o governo de Minas Gerais e com o governo federal.


O vendedor também minimizou menções a Michelle Bolsonaro em diálogos registrados no celular do policial militar. "Se criou um folclore sobre as pessoas envolvidas. E ainda tem um folclore sobre as pessoas envolvidas. Um é o CEO, o outro é a Michelle [Bolsonaro], o presidente", disse.


Cristiano também mudou a versão à CPI sobre o pedido para receber o auxílio emergencial do governo federal.


Primeiro, ele disse que "uma colega" havia feito a inscrição dele no programa, "porque ela viu que eu estava passando dificuldades para pagar as contas naquele momento". Depois de intervalo e conversa com seu advogado, ele reconheceu que era o autor do pedido para receber a ajuda.

O empresário recebeu R$ 4,2 mil de ajuda em 2020 pelo programa direcionado a famílias que ficaram mais vulneráveis na pandemia.


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