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Mostra Welles no Sesc + 2 entrevistas sobre Orson

04 out 2015 às 08:36
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Amigos, para celebrar o centenário de Orson Welles (1915-1985) o Sesc Londrina (Rua Fernando de Noronha, 264, Centro) promove de 5 de outubro a 18 de novembro uma Mostra com 11 filmes dirigidos pelo realizador americano. A programação inclui também uma palestra inaugural que irei apresentar sobre o diretor, além de sessões comentadas na primeira semana.

2015 é um ano duplamente simbólico para os fãs de Welles - além de celebrarmos o centenário do seu nascimento, no dia 10 de outubro completam-se 30 anos de sua morte. Todas as atividades vão se iniciar a partir das 20h e contam com entrada franca. Será uma ótima oportunidade para revisitar a obra de um diretor que foi um revolucionário não só no cinema mas também no teatro e no rádio. Confira a programação abaixo:

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05/10 Palestra Inaugural: O Estilo em Orson Welles, com Rodrigo Grota
06/10 Cidadão Kane (1941, 119 min), sessão seguida de debate
07/10 Soberba (1942, 88 min), sessão seguida de debate
08/10 A Dama de Xangai (1947, 87 min), sessão seguida de debate
09/10 A Marca da Maldade (1958, 95 min), sessão seguida de debate
10/10 F For Fake (1973, 89 min), sessão seguida de debate
14/10 O Estranho (1946, 95 min)
21/10 Macbeth (1948, 92 min)
28/10 Mr. Arkadin - Grilhões do Passado (1955, 93 min)
04/11 O Processo (1962, 119 min)
11/11 Falstaff (1965, 113 min)
18/11 Don Quixote (1992, 116 min)

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John Ford


Supertônica

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Em maio desse ano, concedi duas entrevistas sobre Welles. A primeira foi para o músico Arrigo Barnabé, em seu programa Supertônica, na Rádio Cultura. Arrigo interpretou Welles no filme Nem Tudo é Verdade, de Rogério Sganzerla. Essa entrevista de 60 minutos pode ser ouvida nesse link:
http://culturabrasil.cmais.com.br/programas/supertonica/arquivo/rodrigo-grota-welles-acima-de-qualquer-suspeita


Revista Orson

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Em maio também, mês em que foi celebrado o centenário de Welles, concedi uma entrevista para a revista Orson, publicação semestral do curso de Cinema e Animação da UFPel (Universidade Federal de Pelotas). A Orson, editada pela crítica de cinema Ivonete Pinto, traz artigos inéditos de professores e alunos dos cursos. A revista pode ser encontrada na íntegra no site http://orson.ufpel.edu.br/. Confira abaixo as respostas que enviei para a revista Orson:


1) ORSON - De que forma você se relaciona com Orson Welles? Considerando-o um gênio ou apenas um diretor temperamental que não conseguiu terminar muitos de seus filmes?
Rodrigo Grota - ​Um gênio, sem dúvida. Um homem que revolucionou no mínimo três mídias: o rádio, o teatro e o cinema, e tudo isso em menos de 10 anos. O que nos impressiona no caso de Welles é essa intensidade logo no início da sua trajetória: como ele mesmo diz, ele começou no topo e depois só foi descendo ladeira abaixo. ​Outra característica que me impressiona é a capacidade de se reinventar de um filme para o outro - Citizen Kane tem uma pegada, que é completamente diferente do filme seguinte, Soberba, e o oposto daquele que seria o seu 3º filme: It's All True. Acredito cada vez mais que não podemos apenas avaliar um cineasta a partir dos seus projetos finalizados - Welles é um bom exemplo para essa teoria - os seus "fracassos" são tão sedutores quanto os seus "acertos". ​Você encontra pesquisas de linguagem, vestígios, experimentos nesses filmes "menores" que depois iriam potencializar filmes de outros cineastas como também filmes do próprio Welle​s.

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2) ORSON - O Orson Welles ator, o que acha? Qual filme você acha que ele apresenta uma performance​ ​especial?
Rodrigo Grota - ​O cinema quando não é poesia é um documento - essa avaliação, que não é minha, e sim de um cineasta do qual não me recordo agora, aponta para essa dualidade presente em toda e qualquer perfomance de um ator diante de uma câmera - há o visível e o invisível, aquilo que sentimos e aquilo que o ator interpreta. Welles é um talento acostumado a notas altas, ao gesto expressivo, a melodias dissonantes. Sutileza certamente não é uma das suas qualidades como ator. Ele se aproxima de uma abordagem barroca do personagem, extremada, explosiva, intensa, passional, explícita, quase absoluta. O seu maior pecado é ser dotado de tanto talento, poder criativo, e não conseguir dar uma certa unidade a esse universo interior. Welles é sempre Welles em qualquer filme em que atua - vemos o ator e não o personagem. Mas como ele é múltiplo, misterioso, fabular e sempre um nostálgico, sua presença costuma nos seduzir de formas variadas. Há vários homens em um só Welles. Confesso que a perfomance que mais me seduz é a de O Terceiro Homem, filme dirigido por Carol Reed. Dificilmente você encontrará uma persona tão charmosa.


3) ORSON - Você atribui​ ​a força de Cidadão Kane aos atores que vieram do teatro?
Rodrigo Grota - ​Não somente a isso. Muitos atores oriundos do teatro americano estavam em outros filmes nessa época - era um momento de transição. O que diferencia Kane dos demais filmes é um raro poder de síntese que encontramos nessa obra - a uma só vez ela resume diversas conquistas ​de linguagem acumuladas nos anos 1930 por homens como John Ford e Jean Renoir. A luz de Toland é a luz expressionista, a mesma que ele já utilizara para Ford. A trilha de Herrmann é a mesma dos programas de rádio que Welles conduzia nos anos 1930: volumosa, incessante, quase promíscua. O roteiro é fragmentado: já não sabemos tudo sobre esse universo ficcional - nem o diretor Welles talvez saiba: Rosebud é o início do cinema moderno. As interpretações dos atores ainda estão a um meio tom entre o teatral e aquilo que seria um estilo mais cinematográfico. Welles não gosta da linguagem realista - ou, se você preferir, o realismo em Welles é muito mais profundo, traz em si outras camadas, perspectivas: explora preferencialmente aquilo que não sabemos dos personagens, seus desejos. Há também o uso consciente da profundidade de campo e do plano-seqüência: Welles liberta o espectador, potencializa a montagem dentro do quadro, nos aproxima da trama de uma forma especulativa, sem afirmações definitivas. O cinema passa a ser uma dúvida e não uma certeza. Só esse avanço na linguagem já vale uma vida!!


4) ORSON - Você viu Othello, filme em que ele pintou-se de preto para fazer o protagonista? Este tipo de representação teria algum sentido no cinema de hoje?
Rodrigo Grota - ​Sim, assisti a mais de uma vez. E claro: teria sentido hoje em dia se você estivesse em uma obra não-naturalista, ou adaptada de Shakespeare, como é o caso de Othello. A chave, talvez, para se aproximar de Welles é compreender que quando ele apresenta uma trama, um universo ficcional, um personagem, ele está sempre tentando nos iludir, nos conduzir para uma paisagem distante, possivelmente inexistente, dentro de nós mesmos. Por isso a relação tão forte com Shakespeare, Kafka, e tantos outros escritores que ele admirava. Welles é essencialmente um ilusionista: a sua verdade é a sua capacidade de criar ficção a partir de si mesmo. Do ponto de vista psicanalítico, poderíamos dizer que é o pobre menino Welles tentando chamar a atenção da sua mãe pianista, que faleceu quando ele era ainda muito novo. Do ponto de vista cinematográfico, Bergman foi mais preciso: estamos sempre fazendo o mesmo filme. Só há uma história a contar. E geralmente ela deriva de uma incapacidade. Você está condenado a povoar esse universo sentimental dentro de você mesmo - e eis o que é a obra de um cineasta. Seus sentimentos e sua vontade de esquecê-los.

5) ORSON - Qual seu Orson Welles preferido?
Rodrigo Grota - ​A Marca da Maldade. Um filme barroco, excessivo, inclassificável. Você pode considerá-lo um policial noir, ou simplesmente uma obra policial.​ Para mim, sempre será algo tão vultuoso quanto uma peça de Shakespeare: é o homem preso em sua única condição possível - a luta contra a sua verdade. Quinlan, o personagem interpretado por Welles, atinge a verdade por meios ilícitos. Vargas, interpretado por Charlton Heston, é um policial honesto: nunca prende um só bandido. Essa oposição entre um certo maquiavelismo e uma contínua inocência iluminista dá o tempero para um embate não só físico como de ideias. O homem moral, nesse caso, Vargas, sucumbe pois não consegue habitar um mundo sem verdades. Já Quinlan, o imoral por excelência, não pode ser destruído pois ele caminha naturalmente entre as trevas. Mas além de todo esse conflito entre extremos ainda há uma construção visual primorosa, uma trilha sufocante, e atores maravilhosos, como Dietrich e Janet Leigh, e outros secundários. É um filme supra-sumo, daqueles que serão referenciados ao longo de toda a história do cinema. Uma típica fábula de Welles: todos estamos condenados. A diferença é que alguns sofrem com isso.. Outros não.. !!


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