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O melhor do mau-humor de dois rabugentos

20 jun 2006 às 11:00

Harvey Pekar e Robert Crumb propõem uma bem-humorada análise existencialista em American Splendor
- Reprodução
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Curitiba - Quantas vezes você já se irritou em extensas filas de bancos ou supermercados, principalmente pela morosidade do serviço oferecido pelo qual está pagando? Como você lida com as figuras esquisitas ao seu redor no dia-a-dia, pessoas normais que, olhando bem de perto, parecem alienígenas? As respostas, nada surpreendentes mas sempre confortantes -afinal de contas, é bom saber que não estamos isolados com nossos problemas mesquinhos- são representandas com extrema sensibilidade e espontaneidade no ''melhor do mau humor'' de American Splendor em Bob & Harv - Dois Anti-heróis Americanos, lançado pela Conrad Editora.

American Splendor ficou amplamente conhecido após sua transposição para o meio audiovisual, em 2003, com o filme Anti-Herói Americano, premiado no Festival de Sundance e no Festival de Cannes. Mas a história de Harvey Pekar, ilustrado pelo cult Robert Crumb, apareceu pela primeira vez em 1976, em pleno período de efervescência cultural nos Estados Unidos, após a revolução sexual, a geração beatnik e a geração hippie e rock'n'roll de Woodstock.

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A revista, que nada trazia sobre super-heróis, detetives, bárbaros truculentos ou mulheres gostosas, ganhou identificação, a cara do público, imediatamente. Tudo porque os leitores, em período existencialista, buscavam alguém com as mesmas angústias, com questões semelhantes, e não um monte de respostas sem sentido. E, encontraram na simplicidade de Pekar e nos desenhos rebuscados de Crumb, um caminho diferente de encarar as coisas normais, um desabafo a si próprio, uma maneira de rir de si mesmo sem ferir ninguém.

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As tiras sempre trouxeram o cotidiano insosso cheio de fatos rotineiros na vida de um cidadão gordo, baixinho, de meia-idade, pobre e cheio de manias em uma cidade pequena em que nada de interessante acontece. E está justamente no lugar-comum, no dia-a-dia pouco colorido, o material que Harvey Pekar e Robert Crumb usam para chamar a atenção do leitor. Os detalhes, as entrelinhas, as gags e situações tragicômicas passam rapidamente pelos nossos olhos mas ganham sequências estáticas e reflexivas na revista.

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A paixão por jazz e discos raros, a batalha para sobreviver com pouca grana, a falta de paciência para tudo, as técnicas para enfrentar velhinhas em supermercados e o pouco tato para lidar com a maioria dos estranhos coadjuvantes estão todos reunidos nessa edição da Conrad. Tudo, claro, co-produzido pelas sempre talentosas mãos de Robert Crumb. Quem viu o filme vai reconhecer muita coisa e quem já leu também vai identificar vários momentos na película. As duas produções, altamente recomendadas, formam uma interessante simbiose.


American Splendor não só impulsionou vários artistas amadores a publicarem material engavetado, como também se tornou uma das bandeiras do quadrinho alternativo, material simbólico que prova a flexibilidade e bom gosto do público, muitas vezes cansado de ler coisas com um monte de ''X'' na capa.

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Os Filhos de Anansi - Um dos três mais importantes criadores do quadrinho comercial adulto está de volta. Nem Alan Moore e nem Frank Miller, e sim Neil Gaiman, que retorna às prateleiras brasileiras um pouco distante de sua criação máxima, o Mestre dos Sonhos, Sandman. O escritor britânico repete a fórmula de sucesso do romance Deuses Americanos e emplaca o livro Filhos de Anansi, que estreou nos Estados Unidos na primeira colocação dos mais vendidos, segundo o jornal The New York Times, em setembro de 2005.


À primeira vista, fica impossível dissociar o estilo ''shakespeareano moderno'' imortalizado por Gaiman em Sandman, já que sua maior virtude está impregnada nas páginas de Os Filhos de Anansi. A fluência, com a precisa e interessante descrição dos personagens e o cotidiano verossímel em meio a tanta magia compõem um mix irresistível.

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Não consigo esquecer as palavras do próprio autor, quando é necessário explicar a principal direção de sua veia criativa. Para Gaiman, todas as boas histórias já foram contadas e o importante é recontar clássicos bem-sucedidos de várias culturas para uma audiência contemporânea. Tudo assim, despretensioso mas cheio de conteúdo.


Então, Gaiman explora a vida de um deus africano, Anansi, para contar sua história. O melancólico workaholic ''Fat Charlie'' Nancy tem uma vida comum como agente e tem uma noiva, a comportada Rosie. Isso tudo até ele saber, no velório do pai, que o velho era uma das formas humanas de Anansi. A surpresa maior, porém, acontece com o surgimento de seu irmão desconhecido, o extrovertido Aranha, que herdou dons divinos. E assim começa mais uma jornada de autodescoberta na selva de pedra.

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O melhor de Gaiman é que ele consegue ser chique sem ser pomposo. Transmite conhecimento sem se gabar. Usa do simples para buscar a essência e assim vai contando, de maneira fácil e divertida, uma trama cheia de referências, complexa, transitando entre o real e o surreal, em um mundo tão normal e estranho ao mesmo tempo, assim como o nosso. Para os fãs dos quadrinhos, só faltam as ilustrações. Que, convenhamos, em boa parte de Sandman nem seriam tão sentidas se estivessem ausentes.


Serviço: Bob e Harv - Dois Anti-Heróis Americanos, tem 104 páginas em preto e branco com capa colorida, no formato 21 x 27 cm a R$ 33. Os Filhos de Anansi tem formato 14 x 21 cm, com 384 páginas, e custa R$ 55.


O livro e o álbum citados acima podem ser encontrados em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.

Música+Quadrinhos: Flaming Lips+Os Filhos de Anansi


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