A MTV é realmente pioneira. Antecipa comportamentos e é vanguarda no lançamento de manias e gostos. Ela foi a primeira a exibir no país um reality show. Ele se chamava Na Real e mostrava jovens de várias nacionalidades morando juntos numa casa. Nesta época, os participantes ainda podiam sair para a rua, podiam telefonar para quem quisessem ou mesmo trabalhar. O público ainda não dava palpite sobre quem saía ou ficava no programa.
Então veio a Rede Globo e colocou uma turma de ilustres desconhecidos disputando um prêmio em provas nojentas como comer minhocas e olho de cabra. Pior, eles tinham que dormir em barracas nada agradáveis, mesmo estando na Praia dos Anjos. Era o No Limite. Torcemos para que a gordinha ganhasse. E a Elaine ganhou, acho que uns 300 mil. Comprou uma casa nova e foi capa da Caras.
O grande público tinha sua primeira experiência com um reality show. Éramos apresentados à idéia de nos tornarmos fãs de gente como a gente. Gente como a gente? O Sílvio Santos é especialista nisso e nos ofereceu um voyeurismo muito mais atraente: trancafiou artistas dentro de uma casa para que pudéssemos nos divertir com pessoas famosas de verdade. E - arauto do povão -, o Sílvio nos pôs no controle de suas vidas e passamos a decidir o destino de pessoas que sempre nos deram inveja por estarem, elas mesmas, no comando de suas vidas.
O Casa dos Artistas entrou no horário nobre, brigou com a Rede Globo, glamourizou o baixo nível. Mostrou que brasileiro gosta mesmo é de ver mulher pelada. E já que o único que via uma mulher pelada na Casa era o Supla, o público elegeu-o celebridade máxima na mídia brasileira, rendendo-lhe tributos no MTV Awards. Era o Papito que voltava para esta casa visionária que o tinha relançado entre os Piores.
A Rede Globo contra-atacou a Casa dos Artistas, lançando no Brasil o Big Brother, que tomaria as tardes no Faustão e faria de O Fantástico o programa mais leve do domingo à noite. Desde o início, todos já esperávamos que os participantes do Big Brother fossem gostosonas e gostosões que a Globo tornaria famosos da noite para o dia. Quando vemos o que a Globo faz, sempre achamos que nada é por acaso, que tudo já está planejado. E por isso adoramos tão facilmente a Leka, o Bambam, o André, o Serginho e a Vanessa. Estes falsos não-famosos, estes pré-ídolos que a Globo arranjou para nos entreter.
Depois do Big Brother, o reality show contaminou a TV brasileira. Infiltrou-se na TV a cabo. Hoje o Multishow exibe diariamente o Fama como se não houvesse nada mais interessante em nosso cenário artístico-musical. Aprendemos como se preparam novos astros e vamos sendo educados na arte de consumir talentos. Até mesmo talk-shows, tão antigos na TV brasileira, parecem contaminados de reality e zapear atrás de bons programas
põem-nos numa saia justíssima.
Até que vem a MTV (ela de novo!) e leva ao impensável o alcance de um reality show. Ela paga uma fortuna de dólares e põe a família de Ozzy Osbourne - e o próprio - atrás das câmeras 24h por dia. The Osbournes não é um reality show qualquer, porque Ozzy Osbourne não é um artista de 2ª categoria, nem um pretenso à fama. Ele é o cara que comeu morcego, saca? Ele é um dos precursores do metal de grande mídia. Ora, ele é Ozzy Osbourne. Quem poderia imaginar que um artista de tal envergadura se prestaria a um reality? Nem que fosse pelo dinheiro, porque ninguém precisa de milhões de dólares tanto quanto precisaria alguns mil.
A família de Ozzy é podre. Todos vestem preto - de dia, de noite, pra comer e pra dormir. Todos pintam os cabelos - e não apenas nas tradicionais cores preto, castanho e loiro. Todos falam palavrão - aos montes. Todos falam com sotaque. Todos utilizaram ou utilizam drogas. E nenhum deixa de adimiti-lo.
Ozzy é um roqueiro no melhor estilo sex, drugs and rock´n´roll. É engraçadíssimo vê-lo tentar educar seus filhos, dar-lhes bronca porque recebem os amigos para uma partida de sinuca numa terça-feira 11 horas da noite. Não sabemos se Ozzy é realmente um pai preocupado ou se está apenas fazendo pose para nos divertir. Seus meninos foram criados na estrada por insistência da mãe, Sharon, e Ozzy parece concordar que apenas ela, Sharon, cuide da educação dos meninos.
Sharon manda no Ozzy e parece ser mais velha que ele. A gente fica se perguntando onde estão as supermodels na piscina, as festas na piscina, as transas na piscina, o champagne na piscina e esquecemos que o Ozzy está na meia-idade, acabadaço de tanta porcaria que tomou pra conseguir comer morcegos quando era jovem. Ainda assim, é hilário.
Nenhum artista poderia estrelar um reality tão show quanto o Ozzy. E apenas a MTV poderia exibir todo o non sense de uma vida que nos parece a menos reality possível. Perto do The Osbournes, nenhum Casa dos Artistas, nenhum Big Brother mais tem graça. Para as líderes de audiência superarem a MTV, só se convidassem a Vera Fischer para um reality show. Ah! sim, a Vera Fischer. A Globo teria que comprar os direitos do Barraco MTV. Esta MTV... sempre na frente.