Boa forma

Com indicação, anorexígeno pode sim ser aliado do emagrecimento

18 jul 2014 às 08:47

Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto que suspende resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibindo o uso de inibidores de apetite e controlando o uso da sibutramina. Sendo assim, é necessário desmistificar o assunto e acabar com o mito de que os inibidores de apetite são vilões para nossa saúde.

Os anorexígenos, nome que pode assustar algumas pessoas, não passam de remédios utilizados por pessoas que precisam emagrecer, mas não conseguem resultados apenas balanceando a alimentação ou fazendo exercícios físicos. "É preciso entender que os inibidores de apetite causam anorexia – que, apesar de ser o nome de um transtorno alimentar, significa simplesmente ‘perda de apetite’", explica Andressa Heimbecher, médica endocrinologista especializada em emagrecimento e transtornos alimentares.


Como o assunto causa polêmica, ela acredita que desmistificar os remédios usados para emagrecer pode incentivar seu uso correto. "Os anorexígenos podem ajudar muito a quem de fato precisa perder peso. O problema com essa classe de medicamento vem do seu uso indiscriminado e, muitas vezes, em doses excessivas", comenta. Na busca de um corpo magro, as pessoas muitas vezes tomam atitudes extremas, que geram consequências. Alguns anorexígenos têm sérios efeitos colaterais – e por isso foram proibidos. Para que o benefício seja maior do que os efeitos adversos, é preciso usar essa medicação com consciência – e sempre com orientação médica.


Os anorexígenos são medicamentos psicotrópicos que agem no sistema nervoso central e podem gerar alterações de humor e comportamento. Essa já é uma forte razão para não utilizá-los sem supervisão profissional. Desde que a maioria dos anorexígenos foi proibida no Brasil, o receio em usar esse tipo de substância aumentou.


Segundo a especialista, estes remédios tem o poder de bloquear a sensação de prazer que temos ao comer. "A sibutramina bloqueia a recaptação dos neurotransmissores norepinefrina e serotonina no sistema nervoso central. Eles são responsáveis pela sensação de prazer ao comer, então seu bloqueio reduz a ingestão alimentar", explica. A substância também estimula a geração de calor em tecido adiposo marrom, tanto em experimentos com animais quanto em humanos. "Essa geração de calor, chamada termogênese, aumenta o gasto calórico, o que favorece o balanço energético negativo", esclarece.


Sobre o tão temido "efeito sanfona", que o uso de remédios para emagrecer poderia causar, Andressa é categórica: anorexígenos não causam efeito sanfona. O que acontece, segundo ela, é que, quando alguém está utilizando essas substâncias, acaba ingerindo menos calorias. Quando a pessoa para de tomar o remédio, passa a ingerir mais calorias do que quando estava medicada, e são essas calorias a mais que levam a engordar. Assim, um programa de reeducação alimentar, dieta balanceada e exercícios físicos regulares podem neutralizar o efeito sanfona.


Outro temor comum de quem precisa usar anorexígenos é o fato de eles "viciarem". A endocrinologista explica: "A sibutramina eleva os níveis de serotonina e noradrenalina e para algumas pessoas isso causa efeito de euforia, que muitas vezes pode causar dependência. Por isso, é preciso ter cuidado e tomar o medicamento e nunca dispensar o acompanhamento médico", alerta.


Mas, usando com consciência, os anorexígenos podem beneficiar as pessoas entre 18 e 65 anos com IMC maior que 30 kg/m2. Afinal, lembra a especialista, a obesidade é um risco para doenças cardiovasculares e diabetes, que podem comprometer a qualidade de vida. "Mas tomar remédio sem indicação correta também é arriscado", reforça.


Contraindicação


Ainda que anorexígenos possam ajudar muito a um grupo de pessoas que precisa diminuir o peso, existem muitas contraindicações que devem ser levadas em conta. A endocrinologista enumera:


Pacientes com índice de massa corpórea (IMC) menor que 30 kg/m2


Pacientes com histórico de diabetes mellitus tipo 2, com pelo menos outro fator de risco (como pressão alta controlada por medicação, colesterol alto, tabagista, doença renal)


Histórico de angina, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva, taquicardia, doença arterial obstrutiva periférica, arritmia ou acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório


Hipertensão descontrolada


Idade acima de 65 anos, crianças e adolescentes


Histórico ou presença de transtornos alimentares, como bulimia e anorexia

Pacientes que usam outros medicamentos de ação central para redução de peso ou tratamento de transtornos psiquiátricos.


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