Se nesta temporada estava faltando conexão entre a passarela e o espírito das ruas (e estava!), não falta mais. No minuto em que começou o desfile da À La Garçonne, com direção criativa de Fabio Souza e do estilista Alexandre Herchcovitch, a vibe transgressora e impertinente dos millennials tomou conta da Bienal. No quarto dia de desfiles, a São Paulo Fashion Week finalmente entrou em sintonia com o comportamento de vanguarda dessa geração que é direta, desbocada, tem sexualidade fluida e consciência ambiental.
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A ousadia estava em tudo: no palavrão escrito na meia, na estampa com partes do esqueleto humano, na modelo sem calcinha, nas roupas masculinas transparentes, no garoto de saia, nos tênis com a estampa de corda lançada há duas estações... Até o fato de a dupla preferir evoluir na mesma linha criativa em vez de reinventar mil modas a cada apresentação está alinhado com o zeitgeist de crise e desconfiança em relação ao fast fashion, que descarta tudo.
As bolsas ostentando o logo deixavam claro que com três desfiles, Herchcovitch e seu marido Fabio já conseguiram transformar a marca em uma grife que confere status. Destaque para as parkas e as jaquetonas militares que já viraram hit, agora também em versões com flores e com uma caixa torácica.
Passar uma mensagem clara e atual vem sendo um desafio para as marcas de moda nacionais. Despretensiosamente, a Cotton Project, da dupla criativa Rafael Varandas e Acácio Mendes, conseguiu captar uma questão do momento. O conceito da coleção girou em torno do ócio criativo e da imagem de uma sociedade na qual o relaxamento tem valor. "Antigamente, comida saudável era coisa de natureba. Achamos que no futuro essa pausa para criar será algo necessário", diz Rafael.
Na passarela, tricôs espaçosos, pulls e suéteres convidavam para um aconchego. A alfaiataria era casual e uma estampa de cannabis surgiu em uma camiseta, com a mensagem high-minded people. "Não queremos fazer apologia, mas imagine se um dia a maconha for desassociada do tráfico e da criminalidade. Como será?"