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Relacionamento Abusivo S/A

"Ele falava coisas como: 'que nojo de você'", conta professor de 27 anos

César H.S.Rezende/Redação Bonde
15 mar 2018 às 17:47

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- Marcela Espinoza
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Um relacionamento normal pode ter ciúme, entretanto, a linha que separa ciúme de abuso é tênue muitas vezes. Segundo o psicólogo Filipe Martin Oliveira, "a questão do ciúme tem a ver com confiança e com o medo de perder. Por exemplo, sentir ciúmes do parceiro(a) sair sozinho (a) numa festa é diferente de proibir de sair. Além disso, a partir do momento que você faz o outro sentir culpa por algo que você está sentindo começa a ser abuso."

O sentimento de culpa é uma característica de boa parte das pessoas que são vítimas de um relacionamento abusivo. Para a estudante de psicologia Juliana Cestaro, é como se houvesse uma inversão da situação. "[A pessoa que sente ciúme] deixa a outra [se sentir] totalmente culpada e, com isso, [esta última] deixa de sair ou de fazer algo e priva a sua própria liberdade."

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"Sempre estava em estado de alerta." É com essa frase que o professor Carlos inicia o relato a respeito do último relacionamento no qual esteve. Aos 27 anos, graduado e com mestrado, ele já havia vivido situação semelhante aos 18 anos, quando teve um "namorado abusivo, mentiroso e que vivia fazendo pressão psicológica."

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No primeiro relacionamento, ele não foi capaz de compreender o contexto no qual estava envolvido. Prova disso é as situações que aceitou, como o controle das redes sociais, a vigilância da vida pessoal, a pressão psicológica e a perda de amigos. "Para você ter uma ideia, ele criou uma situação na qual todos os meus melhores amigos e eu brigamos e não conseguimos mais nos falar. Dessa forma, eu me apegava mais a ele."

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Mentira era outra característica da relação. Segundo Carlos, o primeiro ex-namorado inventou uma irmã fictícia com perfil falso no Facebook. Ele explica que, no caso da relação homoafetiva, o acesso à família do outro é mais difícil, já que envolve fatores como aceitação e preconceito. "[Assim], comprovar se era real a irmã não era simples, porque não tinha acesso à mãe ou ao pai, apenas ao perfil da irmã, alimentado por ele com fotos e posts."


Além da falsa irmã, ele criou uma conta de e-mail com um remetente também fictício, por meio da qual o ameaçava constantemente. "Ele mesmo mandava e-mails me ameaçando, aquilo me deixava assustado. Toda vez que isso acontecia, eu me apegava ainda mais a ele, inclusive cheguei a ler esses e-mails com ele e ele me confortava."

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Todas as ações do ex-namorado exerciam forte pressão psicológica sobre a vida do professor. Ele só descobriu as mentiras depois de conversar com um amigo que tinham em comum.


Após pouco mais de um ano, Carlos terminou o relacionamento. "Demorei para conhecer pessoas, já que, após o término, ele [o ex-namorado] ainda me controlava. Mas depois, com a ajuda de amigos e família, segui em frente."

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Passados nove anos, em 2016, veio outra relação com características abusivas. "Não conseguia sair de casa sem me estressar, tinha sempre cara feia e acaba voltando para casa em vez de ficar com meus amigos. Sem contar as coisas ruins que ele me falava, me deixando mal e fazendo a culpa recair sobre mim."


O professor conta que chegou a ser ameaçado pelo segundo ex-namorado. "Ele me dizia: 'se eu quiser, arrumo outro cara muito melhor que você'." Numa outra situação, Carlos encontrou um conhecido com quem havia se envolvido no passado e um simples cumprimento entre os dois foi suficiente para que o ex-namorado surtasse. "Ele falava coisas como: 'olha o tipo de gente com quem você se envolvia, que nojo de você'."


Mais uma vez, Carlos começou a perder o contato com os amigos e não sair de casa virou rotina. "Ele não aceitava que saísse sozinho com meus amigos e, quando isso ocorria, me tratava com frieza, com um silêncio que me fazia sentir muita culpa por achar que estava fazendo algo errado", lembra. "[Depois], ele dizia que ia mudar e chegou a procurar ajuda psicológica. Tudo mudava na primeira ou na segunda semana e, depois, era sempre a mesma coisa, com cenas de choro e isso acabava me segurando."

Após um ano, Carlos terminou a relação e diz que a terapia o tem ajudado nesse processo. "A gente começa a se entender. Me sinto livre, tenho saído bastante com meus amigos e a palavra que melhor define esse meu momento é alívio", finalizou.


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