A população brasileira está entre as mais conectadas do mundo. Como se não bastasse, o novo coronavírus isolou as pessoas em casa. O CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) acaba de divulgar a pesquisa TIC Kids Online, que, desde 2012, atualiza anualmente os indicadores sobre o uso da rede pela população com idade entre nove e 17 anos, visando estabelecer políticas públicas de inclusão digital no País.
O último levantamento do CGI mostra que, nesta faixa etária, 86% teve acesso à internet entre outubro de 2019 e março deste ano, contra 83% em 2018. A maioria, 94%, tem conexão em casa. Só 1,4 milhão nunca teve acesso e três milhões não são usuários.
A conectividade varia de acordo com a região. No Centro-Oeste é de 98%, no Sudeste de 96%, no Sul de 95% e 79% nas regiões Norte e Nordeste. De todos os dispositivos, o celular é o único meio de conexão usado por 58% das crianças e adolescentes. Outros 37% combinam o celular e o computador e 2% fazem conexão só pelo computador.
Leia mais:
Bolsonaro é plano A, posso ser o plano B, diz Eduardo sobre eleição de 2026
Mais de 130 mil cartas do Papai Noel dos Correios estão disponíveis para adoção
Como Ana Claudia Quintana Arantes virou fenômeno ensinando sobre a morte
Nísia Trindade descumpre promessa de disponibilizar medicamentos de câncer de mama no SUS
Olho seco
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, o aumento da conectividade seria uma boa notícia se a vida digital não apresentasse múltiplos desafios para a saúde sistêmica e visual.
Isso porque a pesquisa do CGI, realizada com 2.954 participantes e seus respectivos pais ou responsáveis, mostra que entre 11 e 17 anos, um em cada quatro são viciados na internet. Por isso, não consegue controlar o tempo de navegação e acaba desenvolvendo olho seco.
Os sintomas elencados pelo médico são: vermelhidão, visão embaçada, sensação de areia nos olhos e dor de cabeça no final do dia. Isso acontece porque piscamos menos na frente das telas e a lubrificação dos olhos diminui. O tratamento, explica, pode ser feito com colírio lubrificante ou três aplicações de luz pulsada para estimula a produção da lágrima, conforme o estágio da doença.
Falta de sono
Outros 20% dos entrevistados declararam deixam de dormir para navegar.
"A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que a falta de sono aumenta a obesidade, o risco de alterações emocionais, o estresse oxidativo e a resistência à insulina, que leva ao diabetes. Não são problemas de saúde que surgem imediatamente. O efeito da falta de sono é cumulativo e, por isso, nem sempre é levado a sério, da mesma forma que a falta de proteção contra a radiação UV (ultravioleta) emitida pelo sol", afirma o especialista.
Uma dica do oftalmologista para evitar a insônia é desligar o celular ou computador, no mínimo, uma hora antes de ir dormir. Isso porque as telas emitem luz azul, que inibe a produção da melatonina, hormônio indutor do sono. Outra recomendação é verificar se o celular tem filtro de luz azul embutido ou baixar o aplicativo F Lux, disponível gratuitamente na internet.
Depressão e ansiedade
O CGI também aponta que 21% dos entrevistados se sente mal quando não está na Internet ou se pega navegando sem o menor interesse e 24% acredita que passa menos tempo do que devia com os familiares, amigos ou estudando, claros sinais de ansiedade e depressão.
"São alterações que precisam ser tratadas com um especialista em doenças psíquicas”, afirma.
Vale lembrar que o tratamento com medicamentos antidepressivos deve ser acompanhado também por um oftalmologista. Isso porque os olhos têm receptores de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) contidos nos antidepressivos e ficam 15% mais propensos a desenvolver catarata, que têm como único tratamento a cirurgia.