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Do que se fez o português?

Dia Mundial da Língua Portuguesa: pluralidade e comunidade numa das línguas com mais falantes

Débora Mantovani - Estagiária*
04 mai 2021 às 17:18
- CPLP
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"Estamos sempre usando a língua, mas nem sempre pensamos sobre ela ou sobre a sua importância para a nossa constituição como sujeitos. É uma forma de comunicação, mas também é parte da nossa cultura, história e identidade”. Assim a estudante de Letras Vernáculas Ana Silva indica a importância de atentar para a influência que a língua tem sobre a coletividade. Desde 2009, a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) estabeleceu o dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa. Na data, todos os países lusófonos são convidados a celebrar a pluralidade e, ao mesmo tempo, as convergências linguísticas e culturais entre os diversos países falantes do português.


"Apesar de todos utilizarmos a Língua Portuguesa, estamos em países e, consequentemente, contextos distintos, somos um coletivo fragmentado”, aponta a estudante. "Assim, as interações entre os países lusófonos funcionam como um lugar de troca de experiências, de vivências, de usos e costumes que auxiliam na expansão da consciência do sujeito em relação à comunidade a qual ele pertence”, avalia a estudante.

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O professor do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias da UEM (Universidade Estadual de Maringá) Juliano Desiderato Antonio chama a atenção para a relevância mundial do idioma. "Em geral, nós, brasileiros, não nos damos conta da importância da língua portuguesa no mundo, seja pelo fato de o inglês ter o estatuto de língua franca, seja pelo fato de o Brasil ser o único país da América Latina em que se fala português”, aponta. "Mas se hoje a língua portuguesa é uma das 10 línguas com maior número de falantes no mundo, é graças ao Brasil. Portugal tem em torno de 10 milhões de habitantes, mas estima-se que o português tenha em torno de 250 milhões de falantes pelo mundo”, destaca.

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"Embora muitas pessoas acreditem que o 'verdadeiro' português é falado em Portugal, o Dia Mundial da Língua Portuguesa deixa claro que esse idioma tem diversas variedades, e que nenhuma tem maior valor do que a outra”, declara o professor. "Existem diferenças de vocabulário e até diferenças gramaticais, mas o português que se fala no Brasil, o que se fala na África, na Ásia e em Portugal representam a diversidade linguística e a diversidade cultural”. Ele destaca também o valor das interações e trocas entre os diversos falantes da língua. "Hoje, autores africanos como José Eduardo Agualusa e Mia Couto são conhecidos do grande público no Brasil e em Portugal. Isso ajuda a fortalecer a ideia de que os grandes autores de literatura em língua portuguesa não estão apenas em Portugal”, pontua.

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Do que é feito o português: pluralidade na história e atualidade


"O português faz parte do grupo das línguas românicas, assim como o espanhol, o italiano, o francês, o catalão e o galego, por exemplo. São línguas que se originaram do latim, língua que era falada pelos romanos”, contextualiza Desiderato. "O latim se espalhou pela Europa conforme os romanos foram expandindo seu império, e chegou à Península Ibérica (onde ficam Portugal e Espanha) por volta dos séculos III e II a.C.”, descreve.

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"O latim foi incorporando elementos das línguas faladas pelos povos que já habitavam a região. Após a queda do Império Romano, a península Ibérica foi invadida pelos visigodos e, posteriormente, pelos árabes, e outros elementos linguísticos foram acrescentados. No noroeste da península, consolidou-se uma língua denominada galego-português”, explica. "No século XII, com a formação do Reino de Portugal, o português passou a se desenvolver separadamente do galego. É interessante observar que ambas as línguas ainda apresentam muitas semelhanças”, informa o professor.


E não é apenas na História que a língua portuguesa adquire novos contornos. As mudanças e variações ao longo do tempo são constantes e ela continua ganhando novas nuances e sotaques. A estudante Ana Silva, que dá aulas de português para estrangeiros, conta como as diferenças culturais dos alunos potencializam a diversidade da língua. "Desde que todos estejam abertos ao diálogo e à troca, a diversidade cultural é muito frutífera e gera interessantes e positivos debates”, frisa. "Cria-se um ambiente livre e de compartilhamento que amplia a nossa visão do outro e, com certeza, nos ajuda a ter mais empatia. Além disso, esse contato nos ajuda a quebrar diversos estigmas que temos em relação a culturas que, muitas vezes, só conhecemos de forma superficial”.

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As aulas ministradas por Silva são parte de um projeto de extensão vinculado à Unifacs (Universidade Salvador) chamado CSM (Centro de Serviço ao Migrante). "O projeto tem por objetivo prestar assistência jurídica e social ao migrante, além de aulas de português”, comenta. "Por ser um projeto de extensão, os professores vinculados são voluntários, as aulas são gratuitas e as vagas são preenchidas por ordem de inscrição. Participar desse projeto é muito gratificante pois contribuímos para a inclusão social de estrangeiros que vieram ou pretendem vir para o Brasil através do ensino da língua e da cultura”, revela.


Silva conta que os alunos são das mais variadas nacionalidades. "Na turma temos majoritariamente alunos da Venezuela, Chile, Egito, Marrocos e Nigéria. A maior parte deles está vindo morar no Brasil ou está aqui há pouco tempo e precisa aprender português para poder buscar empregos, mas não tem condições de pagar por isso”, aponta. "Muitos outros querem aprimorar o português por gostar da cultura e terem planos de vir para o Brasil no futuro. Apesar de motivações por vezes diferentes, todos são extremamente dedicados e comprometidos com o aprendizado”.

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A estudante de Letras elenca quais são os principais desafios do ensino da língua portuguesa para estrangeiros. "O português é uma língua complexa e mesmo nós que somos falantes nativos por vezes temos dificuldades em alguns aspectos. Para um falante que não é nativo a dificuldade pode ser um pouco mais acentuada dependendo da sua língua materna”. Ela diz que para os alunos que vem de países falantes de espanhol, por exemplo, os conteúdos são mais fáceis de compreender. "Já um estudante que tem o árabe como língua materna tem maior dificuldade pelas diferenças linguísticas”.


"Um dos conteúdos que mais gera dúvida entre os alunos, ainda que por motivos diferentes, é o verbo”, exemplifica. "Em certas ocasiões um mesmo tempo verbal em português tem diferentes aplicações e isso gera dúvida, além, é claro, das conjugações e das nomenclaturas que podem confundir”, afirma. "Um outro exemplo de diferenças que podem gerar alguma confusão para os alunos é que algumas línguas como o árabe tem flexões verbais não existentes em português”. Ela conta que sempre busca conhecer um pouco das línguas de seus alunos para poder ensiná-los da melhor forma possível.


Além dos diferentes idiomas, as diferentes culturas dos alunos podem causar confusão à primeira vista. "No início, essa diferença linguístico-cultural parece abismal e pode gerar um certo estranhamento e alguns conflitos. É necessário que o professor esteja preparado para mediar essas discussões de forma respeitosa e para criar um ambiente acolhedor”, finaliza.

*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.


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