Pela primeira vez na história, observatórios de três países detectaram ondas gravitacionais geradas pela batida entre dois dos objetos mais intrigantes do Universo: buracos negros e estrelas de nêutrons.
As deformações no tecido do espaço-tempo foram registradas pelos observatórios Ligo (EUA), Virgo (Itália) e Kagra (Japão) e remetem a até 1 bilhão de anos atrás, segundo estudo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.
O primeiro sinal foi detectado em 5 de janeiro de 2020 e emitido há 900 milhões de anos, quando um buraco negro com massa quase nove vezes superior à do Sol devorou uma pequena estrela de nêutrons com massa quase duas vezes maior que a do Sol.
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Já o segundo foi registrado em 15 de janeiro de 2020 e diz respeito à batida de um buraco negro com uma estrela de nêutrons a 1 bilhão de anos-luz da Terra. Esses dois corpos tinham massas 5,7 e 1,5 vezes superiores à do nosso Sol, respectivamente.
"O Ligo e o Virgo continuam a revelar eventos catastróficos nunca antes observados, contribuindo para esclarecer uma paisagem cósmica até então inexplorada", disse Giovanni Losurdo, coordenador internacional do observatório Virgo, que fica na cidade italiana de Pisa.
Previstas na Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, as ondas gravitacionais são ondulações no tecido do espaço-tempo provocadas por eventos cósmicos violentos envolvendo corpos superdensos.
Sua existência foi comprovada em 2015, com a detecção de ondas provocadas pela fusão entre dois buracos negros, graças à evolução da tecnologia nos observatórios criados para captar esse tipo de fenômeno.
Os laboratórios consistem em detectores no formato de L e utilizam lasers para medir dilatações infinitesimais no espaço-tempo. Até agora, no entanto, não havia sido possível captar sinais referentes a batidas entre buracos negros e estrelas de nêutrons.
Esses dois corpos celestes são o resultado da "morte" de estrelas com massas muito superiores à do Sol e se caracterizam pela densidade extrema. Os buracos negros são tão densos e possuem campo gravitacional tão forte que sequer a luz consegue escapar de seu interior, por isso não é possível enxergá-los.
Já as estrelas de nêutrons são o espólio de supernovas de estrelas bastante massivas, mas ainda assim sem massa suficiente para se tornar buracos negros. Uma estrela de nêutrons tem diâmetro estimado entre 10 e 30 quilômetros, ou seja, é menor que uma cidade como São Paulo, mas uma colher de chá de sua matéria pesaria tanto quanto o Monte Everest.