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Pesquisadoras brasileiras se unem para formar rede Mulheres na Zoologia

Redação Bonde com Folhapress
19 abr 2021 às 16:41
- Reprodução/Pixabay
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Cavar um buraco de 1 m de profundidade para enterrar baldes de 30 L para pegar sapos e lagartos, arrastar redes de 2 m de comprimento no leito de um rio para pescar peixes ou ainda pendurar redes de neblina de 2,5 m de altura por 10 m de largura para a coleta de aves e morcegos não parecem ser tarefas para uma mulher, certo?


Errado. A ideia de que as mulheres não podem executar determinados trabalhos por serem mais exigentes fisicamente e, assim, não serem boas trabalhadoras de campo, já caiu por terra há muito tempo. Só esqueceram de avisar os pares masculinos.

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As ações descritas acima são algumas das formas de coletar animais na natureza que os zoólogos, cientistas dedicados à pesquisa de animais, enfrentam. E, no Brasil, mais da metade deles são mulheres –embora elas ainda lutem por aceitação na área.

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Foi pensando nisso que um grupo de zoólogas brasileiras criou a rede Mulheres na Zoologia. "De maneira geral, as mulheres são muito menos reconhecidas que seus colegas homens, resultando em menos mulheres em posições de destaque na ciência.
Essa situação de desigualdade é ainda mais gritante quando falamos do estudo dos animais: a sociedade –e até parte dos cientistas– não espera que mulheres consigam ir para o meio de florestas pegar animais", diz Veronica Slobodian, professora da Universidade de Brasília e uma das criadoras da rede.

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A faísca inicial para a criação do grupo surgiu em um simpósio durante o Congresso Brasileiro de Zoologia, no 2020 pré-pandemia, organizado pela entomóloga (quem estuda os insetos) e pós-doutoranda do programa de Biologia Evolutiva da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Rafaela Falaschi. "Voltei para o laboratório com a ideia de seguir com o grupo, mas aí veio a pandemia", diz.


Meses se passaram e a publicação de um artigo controverso na revista científica Nature Communications, do grupo Nature, reacendeu a chama. O texto dizia que a orientação por parte de pesquisadoras sêniores mulheres para alunas causava um efeito negativo na pesquisa das mesmas, levando a menos citações e impacto científico.

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"A repercussão criticando este artigo, extremamente problemático, nos uniu novamente para publicar uma resposta", explica a herpetóloga (quem estuda répteis e anfíbios) e pós-doutoranda da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Luisa Diele-Viegas.


Um dos pontos levantados pelas pesquisadoras é que a métrica usada pelos autores para avaliar o efeito a longo prazo da orientação feminina, o número de citações e participação na coautoria de artigos, justamente, é onde se evidencia o viés de gênero na academia. Embora um levantamento de 2019 aponte que as mulheres assinam 72% dos artigos no país, esse número cai para menos de 20% se os autores principais forem homens nas áreas de zoologia e ecologia.

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Segundo os dados, embora as mulheres sejam ainda minoria nessas áreas, a participação em artigos cresceu de 27 para 31% na última década, mas, ao considerar os artigos com mulheres como primeiras autoras (a principal) e última autora, houve queda de publicação nas revistas voltadas especificamente para a zoologia.


No estudo dos peixes, levantamento do mesmo ano feito pelas pesquisadoras da rede IctioMulheres, mostrou que as mulheres representavam 43% dos formados na pós-graduação, mas só 38% eram primeiras autoras na revista Neotropical Ichthyology, a principal da área.

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Outra questão - "Além de menos de 30% serem convidadas para palestras magnas, no conselho e diretoria da sociedade as mulheres são apenas 19%", explica Priscila Camelier, bióloga e professora da Universidade Federal da Bahia, que participa do IctioMulheres e integra também a rede Mulheres na Zoologia.


Esse padrão se repetia na Sociedade Brasileira de Ornitologia (estudo das aves), onde quase metade dos membros ativos (44%) são mulheres, mas apenas 22% dos artigos publicados na Revista Brasileira de Ornitologia tinham mulheres como primeiras autoras.

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Para Diele-Viegas, as sociedades zoológicas estão começando agora a ter esse tipo de discussão, e um dos objetivos do grupo é trazer o debate do por que a representação de gênero é importante. "Nós enquanto zoólogas acabamos passando por situações complicadas, há muitos relatos de assédio. O trabalho de campo é muitas vezes feito a noite, em áreas remotas, de difícil acesso, quando temos que passar semanas em um alojamento. Nós buscamos sintetizar esses problemas e promover discussões para mudar o caminho a partir de agora."


A herpetóloga afirma ainda que o assédio, além de dificuldades para conseguir manter a produção acadêmica elevada em meio a outras exigências do cotidiano, como a maternidade, são os principais motivos de desistência da carreira científica entre as mulheres.

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"Um dos principais desafios é conseguir uma política bem forte contra assédio nas universidades e instituições, evitando assim o chamado 'vazamento de duto' [exclusão das mulheres nas posições mais altas da carreira científica]", diz.


Recentemente, a pró-reitoria de pós-graduação da USP lançou um programa de apoio às pesquisadoras mães que visa dar auxílio em forma de bolsa às alunas matriculadas em cursos de pós-graduação e que também são mães e tiveram sua pesquisa afetada pela pandemia.


O programa Parent in Science, fundado pela bióloga Fernanda Staniscuaski, tem o mesmo objetivo, mas com abrangência nacional. O efeito da maternidade, e não da paternidade, nas pesquisadoras é principalmente sentido e revela-se como queda da produtividade durante os meses ou até anos de cuidado com os filhos.


Após dois anos da aprovação da mudança, o CNPq, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, passou a incluir, em 15 de abril, o campo de licença-maternidade no currículo Lattes.

"Embora tenham muitas iniciativas interessantes surgindo, nossa discussão não finda aí. Precisamos discutir a participação feminina na zoologia, a disparidade de gênero e o assédio nessa área para conseguir a mudança que queremos", questiona Camelier.


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