O grande disco de Natal do Roberto Carlos este ano não será do Roberto Carlos, será de Cauby Peixoto. Cauby lança hoje o CD "Cauby Interpreta Roberto" (Lua Music), com dois shows no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Os ingressos para as duas apresentações estão esgotados. Curiosamente, esse feito se dá na mesma noite em que o próprio Rei grava, no Ginásio do Ibirapuera, seu especial anual de TV.
Produzido por Thiago Marques Luiz, o álbum começa com a clássica "Proposta". Em "De Tanto Amor", a segunda canção do lote, Cauby é acompanhado apenas de cello, baixo acústico, violão, piano e flauta. Percussão e piano transmutam "A Volta" em uma delícia para fazer cessar o bate-papo em qualquer piano-bar de hotel ou boate. "Sentado à Beira do Caminho" (única música que não foi Roberto quem gravou primeiro, mas Erasmo) ressurge com uma seção de cordas e arranjo de Cintia Zanco, ganha bossa e gaiatice, e o ritmo da produção acaba impedindo Cauby de derrubar tudo com seu overacting.
"Os Seus Botões" não tem contraindicação, é música da fase mais puramente moteleira do Robertão, e Cauby não desaponta. O saxofone de Ubaldo Versolato dá o golpe final no ouvinte. "Música Suave" é colchão de plumas para o crooner, com arranjo sinatriano, jazzy, big band de sessão da tarde. "As Flores do Jardim da Nossa Casa" é super-Cauby, e por isso mesmo deveria ter sido evitada. Mas as escolhas são do próprio, e ele tem direito.
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Uma gaitinha entra em cena na interpretação de "Não se Esqueça de Mim", para desobstruir e reforçar o climão nostálgico da canção. "Desabafo", tango de cortar os pulsos, fica ainda mais portenho a bordo do bandoneon de Martin Mirol. É o encontro de Roberto & Erasmo com Piazzolla. Em "Olha", Cauby é acompanhado somente pelo piano. "À Distância" é uma canção que parece ter sempre sido de Cauby, e o arranjo aqui não inventa nada, é muito mais Eduardo Lages do que as canções do próprio Roberto. "O Show Já Terminou" é a última música do lote, turbinada por um trompete, um trombone e um sax.
Havia 16 anos que Roberto Carlos não autorizava um artista a gravar um disco inteiro com seus hits (a última que permitiu foi Maria Bethânia, com "As Canções Que Você Fez para Mim", de 1993). E passaram 29 verões desde a última vez que Roberto e Erasmo enviaram uma música para Cauby gravar. Era "Brigas de Amor", de seu disco de 1980, Cauby! Cauby!. Apesar da demora, os meninos da Jovem Guarda que sempre renderam homenagens ao seu ídolo inicial agora permitem que ele dê ao mundo sua visão muito pessoal das coisas. O resultado é um belo trabalho.