Literatura

Escritor paranaense inicia viagem para narrar histórias da Rodovia do Café

21 jan 2014 às 10:51

O escritor paranaense Miguel Sanches Neto inicia nesta terça-feira (21) uma viagem para coletar histórias junto aos personagens da Rodovia do Café (BR-376), trecho que liga o Norte do Paraná (Apucarana) aos Campos Gerais (Ponta Grossa) e à capital Curitiba.

Em seu projeto, Neto fará o trajeto de 358 quilômetros em uma semana, fazendo dezenas de paradas em uma van adaptada como escritório literário. Seu ponto de partida será a Rodoviária de Apucarana às 8 horas e a chegada será na Rodoviária de Curitiba, no dia 28 de janeiro. O projeto Residência Literária na Rodovia é realizado com o patrocínio cultural da concessionária CCR RodoNorte, que cuida deste trecho, através da Lei Rouanet, e apoio da Fundação Cultural de Ponta Grossa.


Com novos olhares e em uma outra velocidade, Miguel Sanches Neto vai partir da pequena Peabiru, no interior do Paraná, rumo a Curitiba e depois Ponta Grossa, trajeto que fez há cerca de 30 anos. O autor fará o trecho através da histórica Rodovia do Café - que hoje está bem diferente daqueles tempos.


Para o presidente da CCR RodoNorte, José Alberto Moita, o apoio ao projeto colocará a rodovia e uma belíssima região do Paraná em um outro mapa, o da Literatura. "Acredito que o Miguel vai constatar uma coisa que nós, que vivemos a rodovia, sabemos: que a rodovia é um ser vivo. A gente a concebe, faz projetos, cria, cuida, ela fica doente e a gente dá o remédio, ela cresce e precisa de adequações. Além disso há toda uma cultura em volta dela, personagens que enriquecem a sua história e a humanizam. Caso dos andarilhos, por exemplo, que descansam sob os viadutos e pontes, sempre deixando uma mensagem curiosa", sugere Moita.


Miguel, por sua vez, acredita que o aspecto simbólico da rodovia irá oferecer inúmeras abordagens e vai trazer realidades desconhecidas de quem apenas passa pela estrada, em velocidade, buscando seu ponto de destino. "Vamos fazer esta viagem em uma velocidade diferente, mostrando tudo o que há de interessante e que passa despercebido por quem não para para observar de perto o que se passa na rodovia. É também um trajeto autobiográfico, pois eu o fiz há muitos anos, de ônibus. Esta rodovia é muito importante para o Paraná e tenho certeza de que seremos surpreendidos neste projeto", antecipa o escritor.


A Rodovia do Café


O projeto de Miguel Sanches Neto tomará forma entre os dias 21 e 27 de janeiro. Ele vai passar por 358 quilômetros, de Apucarana a Curitiba, através de 13 cidades e inúmeras comunidades, personagens e histórias. Ao longo de todo este trajeto, o escritor contará com o apoio da concessionária de rodovias CCR RodoNorte, que cuida de todo este trecho. Após modernizada, a rodovia agora está sendo duplicada.


Residência Literária


O projeto Muitas Margens inova o conceito de residência literária, em que um autor passar um período numa casa para escrever um livro. E tenta romper com a ideia de que um livro nasce apenas do isolamento.
O escritor tende a olhar o mundo a partir de seu escritório, que é o lugar de certa segurança sobre suas verdades. No escritório, o acúmulo da experiência e da leitura se traduz em histórias. Uma das maneiras de experimentar alguns deslocamentos, viver estranhamentos, é através da viagem.


Há muitos casos, na literatura universal, de escritores viajantes, que deixaram diários de bordos de grande relevância humana e artística. Numa época em que os deslocamentos são cada vez mais rápidos, a grande experiência da viagem está na atenção que se tem ao mundo em redor - neste trajeto ele terá o apoio da concessionária CCR RodoNorte, que também oferece apoio cultural à obra de Miguel.


Em 1982, Julio Cortázar e Carol Dunlop resolveram fazer uma viagem em ritmo lento entre Paris e Marselha, pilotando uma Kombi. Levaram um mês para percorrer o trajeto que duraria horas na velocidade das rodovias. Por meio da demora, eles descobriram todo um mundo e restauraram o ritmo dos viajantes das diligências. O resultado é o livro Os astronautas da cosmopista (Brasiliense, 1991).

Mais recentemente, o filósofo Alain de Botton foi contratado para ficar uma semana no aeroporto de Heathrow, em Londres, apenas observando os encontros e despedidas das pessoas. Ele construiu um olhar sobre a grande miscelânea da espécie humana que passa por esse lugar que é um dos centros do mundo moderno. Esta experiência de olhar filosófico sobre o tempo presente está registrada em Uma semana no aeroporto (Rocco, 2010). É com base nestas duas grandes experiências anteriores que o escritor e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa Miguel Sanches Neto fará esta viagem literária.


Continue lendo