Os ouvidos podem ver. Os olhos podem tocar. O nariz pode ouvir. As mãos podem cheirar.
Essa mistura dos sentidos está presente no garoto Zinho, personagem de "Espia das Montanhas", romance infantojuvenil da bióloga mineira Ana Carolina Neves lançado pela editora FTD com ilustrações de Valentina Fraiz.
A obra traz a história dos irmãos Zinho e Chica que vivem na região da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Descendentes de quilombolas, vivem de uma antiga tradição do lugar: a extração de flores sempre-vivas.
Desde pequeno Zinho sofre uma gradativa perda de visão, o que faz com que a irmã Chica o acompanhe em todas atividades. Mas o garoto desenvolve soluções intuitivas para suprir a deficiência visual aguçando todos os outros sentidos.
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Um belo dia passa pelo lugar um ornitólogo que pesquisa as aves da região. A perceber que Zinho conhece de ouvido o canto de todos os passarinhos das montanhas, solicita sua ajuda para encontrar uma rara espécie ainda não catalogada.
Em pouco tempo o ornitólogo percebe que o garoto não sofre de cegueira ao apenas colocar em suas mãos um binóculo. O mundo de Zinho se transforma, ele passa a ver coisa que não via. Nada mais do que um acentuado grau de miopia que poderia ser reparado com uma consulta médica e óculos.
A autora faz um claro redimensionamento de um dos clássicos contos do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908 – 1967) que integra o volume "Corpo de Baile", onde o grande personagem é um garoto com "vista curta" que vê o mundo se descortinar quando coloca óculos pela primeira vez na vida.
Além da descoberta de mundo, "Espia das Montanhas" traz um retrato da natureza das Serra do Espinhaço. Paisagem, fauna e flora são partes intrínsecas da narrativa. A cultura dos habitantes da região também faz integra o retrato.
Leia mais na edição desta terça-feira (17) da Folha de Londrina.