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Contaminada no berço

Adriana lança primeiro CD só com músicas próprias

Agência Estado
18 mar 2011 às 11:29

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"É um CD que explicita de onde minha música vem, mais do que para onde ela está indo", explica Adriana Calcanhoto - Divulgação
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Fãs e críticos esperavam com alguma ansiedade o "CD de samba de Adriana Calcanhotto". Mas ela avisa logo: jamais anunciou que faria um. Não planejado, O Micróbio do Samba (Sony), que estará nas lojas semana que vem, é mais "uma fotografia de um momento, que brotou espontaneamente", do que uma pesquisa sonora em busca de "transambas", como a que moveu Caetano Veloso no último CD, ou uma incursão pelo samba "à vera", como fizeram Marisa Monte e Maria Rita.

"É um CD que explicita de onde minha música vem, mais do que para onde ela está indo", explica a cantora gaúcha, que em 1989 chegou ao Rio para não mais voltar, num fevereiro que rememora até hoje. Em 21 anos de carreira discográfica, é a primeira vez que Adriana, compositora que coleciona triunfos, canta apenas criações próprias.

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O violão algo bossa-novista está lá, e a ele se juntam o contrabaixo de Alberto Continentino e a "pseudobateria" de Domenico Lancelloti, como o próprio definiu ("sem pratos e com um surdo deitado no chão em vez do bumbo"). Os três a flertar com o gênero brasileiro por excelência. Emulando-o, chegaram onde queriam.

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"Não gosto dessa conversa do que é samba e o que não é. Quem determina isso? A vida é curta, e essas questões não me atraem", diz Adriana, que estava em estúdio a princípio para gravar a música que entrou na trilha da finada Passione, Canção de Novela.

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Semanas antes do lançamento, ela já estava sendo criticada por puristas que ouviram na internet a faixa Tá na Minha Hora, de louvação à Mangueira, escola de samba pela qual caiu de amores ainda menina, em Porto Alegre, ao vê-la desfilar na TV a cores comprada pela avó. "Se a gente ficasse pelos puristas, nem tinha o samba...", desdenha.



Adriana, Continentino e Domenico planejavam apenas registrar uma safra de músicas, que ganhariam o rótulo de "sambas" a título de mera organização de sua editora musical. Gravaram, adoraram o que ouviram e, ao perceber que haviam achado o caminho para um CD, resolveram chamar outros músicos.

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Davi Moraes toca viola, violão e cavaquinho em três faixas; Rodrigo Amarante, Moreno Veloso e Nando Duarte aparecem cada um numa, a cargo de guitarra, prato e faca e violão, respectivamente. Nada de pandeiro e tamborim.


O primeiro fruto dessa produção conta cinco anos. Vai Saber? era para Mart’nália, a sambista de Vila Isabel, mas quem gravou foi Marisa Monte, justamente em seu CD de sambas, Universo ao Meu Redor. Com Já Reparô? e Pode se Remoer, ela dá voz a uma mulher segura, que fala ao homem com despeito.

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Já Eu Vivo a Sorrir, Aquele Plano Para Me Esquecer, Tão Chic e Você Disse Não Lembrar são românticas, canções de quem espera por um amor. Beijo Sem - pensada para Marisa, e repartida por ela com Teresa Cristina, que a registrou em seu último CD - traz na primeira pessoa uma mulher livre, que bebe todas na Lapa, pega geral e não é de ninguém.


São sambas contemporâneos, com expressões bem cariocas, como "no sapatinho" (discretamente) e "já é" (é pra já). Bem diferentes dos primeiros que Adriana cantou, quando ainda se apresentava na noite da capital gaúcha. Estes eram principalmente os sambas-canção trágicos de Lupicínio Rodrigues, porto-alegrense também.


Quando ele morreu, em 1974, Adriana tinha só 9 anos. Mas sua presença sempre foi sentida por ela. "Ouvia muito no rádio. Só gravei Nunca, mas canto Esses Moços, Se Acaso Você Chegasse...", lembra. "A influência dele é forte no meu trabalho. Às vezes ele aparece, fica mais explícito."

O título do CD vem de uma expressão usada por ele e outros sambistas. "O micróbio do samba você tem ou não tem. Eu tenho", ela brinca. "Isso não faz de mim uma sambista. Mas não exagero quando digo que ouço samba em tudo. Se estou numa estação de trem em Berlim e o trem vem chegando, aquele barulho é samba."


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