Curitiba - "Uau!" Foi o que um garoto disse ao entrar acompanhado de seu pai, um daqueles coroas roqueiros, na Pedreira Paulo Leminski, na última terça-feira (31). Mal sabia o menino, uma das mais de 12 mil pessoas por ali, que poderia repetir sua interjeição ao final do show do Beastie Boys, na primeira edição do Tim Festival em Curitiba. O evento trouxe também outros nomes de peso, Nação Zumbi, DJ Shadow, Patti Smith e Yeah Yeah Yeahs.
Bem, em primeiro lugar, faz-se necessário falar sobre a estrutura. Um setor para os "vips" e duas áreas enormes com praça de alimentação para recepcionar o público, que, diferente do ano passado -quando Strokes tocaram no estacionamento do Anhembi, em São Paulo-, teve onde descansar um pouco ou tomar um ar. A utilização de 80 banheiros químicos também facilitou bastante o fluxo sempre complicado na área dos sanitários.
O som esteve à altura dos convidados e ficou ainda mais uniforme a partir do momento em que as pessoas iam chegando e se aglomerando em frente ao palco. Ah, não poderia deixar de notar a charmosa saída de emergência, que aproveitou o elevador da Pedreira para se tornar um grande "folder" do festival. Boa sacada.
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O show da Nação Zumbi começou exatamente às 19h05. Os brasileiros não poderiam ser melhor representados, mais uma vez, em um grande festival. Guitarras pesadas, percussão e bateria afinadíssimos. A banda tocou composições mais recentes, do álbum Futura, e da metade para o final da apresentação de cerca de uma hora lembrou os primeiros sucessos, a exemplo de Maracatu Atômico, com direto a homenagem para Chico Science.
O bom de tudo é que o grupo não é mais somente lembrado por fazer "música regional", manguebeat, ou seja lá o que for. É lembrado por fazer som de qualidade, sem rótulos engraçadinhos. A empolgação do público só não foi maior porque muitos -como o garoto citado no primeiro parágrafo- estavam apenas chegando.
Em seguida, DJ Shadow destilou a mistura de hip-hop com música eletrônica -sua famosa criação, o trip-hop- em meio à chuva, que a partir dali caiu timidamente a noite toda e só incomodou quem não está acostumado a festivais ao ar livre. A apresentação veio acompanhada de imagens comandadas por VJ em um telão, que, durante a execução de faixas como Break It Down, seguiu o ritmo da música.
Como em Curitiba houve apenas um palco, o público aos poucos foi se dividindo: os adeptos e simpatizantes de música eletrônica, ou simplesmente fãs de DJ Shadow, agitaram bastante a fila do "gargarejo" e depois saíram quando entrou Patti Smith.
A veterana cantora, poetisa punk, Iggy Pop de calcinhas, chame do que quiser, fez a alegria dos mais nostálgicos ao executar People Have the Power em tom de protesto, contra as grandes corporações: "Nós não trabalhamos para o governo e nem para as corporações; são eles que trabalham para nós". Mais comportada, e nem por isso menos empolgante, Patti Smith mostrou fôlego de Karen'O e ainda fez questão de descer do palco e ficar no meio da galera, ao final de sua apresentação.
A banda mais esperada da noite pelos adolescentes fantasiados e fãs do "novo rock" fez jus à sua fama de contagiante e fez todo mundo pular em hits como Date With the Night e Gold Lion. Karen'O, sempre muito carismática, esperneou, fez caras e bocas, aprontou suas danças esquisitas mas não chegou a ser tão incendiária como costuma ser em lugares pequenos e fechados, especialidade do grupo. Para quem ainda tinha dúvida, depois do show ficou claro que o YYYs deve ficar por aí fazendo sucesso por mais algum tempo. O som cru, bem tocado -e gravado-, deixa o rock menos espontâneo, porém, um pouquinho mais sofisticado.
A grande unanimidade da noite foi o bombástico show do Beastie Boys. Quando o grupo entrou no palco todas as tribozinhas divididas entre os shows tornaram-se uma massa só, que, em seguida, virou coro uníssono em clássicos como Brass Monkey, No Sleep 'Till Brooklin, So What'cha Want, Sure Shot, entre outras, de todas as fases da banda, como as mais recentes, Body Movin', Intergalactic e Ch-check it Out. Tudo com a impressionante e espetacular presença do DJ Master Mike e suas habilidosas mãos nas pick-ups.
Em certo momento, Mike D e MCA surpreenderam o aniversariante Ad Rock, no alto de seus 40 anos, com um bolo e um "Happy Birthday", devidamente acompanhado pelo público, que não entendeu muito as piadinhas do trio sobre a "chave" da cidade -a banda brincou com isso porque os três ficaram contentes com a recepção curitibana e queriam agradecer pessoalmente a prefeitura municipal.
Bem avisados como foram, os "garotos" deixaram sua mais famosa composição por aqui para o final. No bis, mudaram o formato do show, de MCs e DJ para banda de rock, em que os três pegaram nos instrumentos típicos do rock -guitarra, baixo e bateria- acompanhados pelo DJ. Depois de uma ligeira troca de baixo, mais sujo -o que levou muitos a pensarem que a apresentação poderia ser encerrada com um imprevisível Time for Living, da fase punk-, Beastie Boys tocou Gratitude e a tão esperada Sabotage e encerrou sua memorável passagem por Curitiba com direito a algumas rodas de pogo abertas no meio do público. "Uau!", deve ter dito novamente o garoto, já no início da madrugada de quarta-feira.
Ficou o gostinho de quero mais: será que teremos Radiohead em uma possível segunda edição do Tim Festival na capital paranaense? Bem, a resposta todos podem aguardar mais um pouquinho porque por enquanto a galera ainda está curtindo as lembranças da primeira.