Em vida, foram dez discos em carreira solo - entre eles, "Thriller", o álbum com maior vendagem da história da indústria fonográfica, com mais de 100 milhões de cópias vendidas no mundo. Arrastou multidões por onde passou. Criou tendências na moda, na música, na dança. Quase na mesma medida que arrancou elogios da crítica, sofreu com a opinião pública com algumas das suas excentricidades. Michael Jackson tornou-se o Rei do Pop. Mas mesmo com toda a sua realeza, o cantor, morto tragicamente em junho do ano passado, aos 50 anos, não escapou de uma sina que persegue os grandes nomes da música: os oportunistas discos póstumos.
É o caso de "Michael", que foi lançado oficialmente no Brasil nesta semana, com dez faixas ''inéditas'', assim mesmo, entre aspas. Isso porque o primeiro single "Hold My Hand", gravado em parceria com um dos atuais reis do novo R&B, Akon, vazou e caiu na internet ainda em 2008 ''acidentalmente'', de novo com aspas. Acontece que o rapper de origem senegalesa tinha escrito essa balada para que ele próprio a gravasse, mas quando foi chamado para ajudar a revitalizar a carreira de MJ, mudou de ideia e a cedeu para o Rei do Pop, criando uma nova em parceria, é claro.
Sem lançar um disco de inéditas desde 2001, com "Invincible", Michael tinha gravado uma série de rascunhos que nunca chegou a completar. A gravadora Epic e um agrupado de produtores contratados, entre eles Teddy Riley, Christopher Stewart e Theron Feemster, que costumam trabalhar com nomes de peso do R&B, juntaram todo o material encontrado, fizeram um certo estica-e-puxa com a voz de Michael e estava pronto o 11º disco do Rei do Pop.
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O álbum revela três facetas de Michael: dançante, romântica e revoltada. As duas primeiras já são velhas conhecidas. Ali o Rei está em casa. Mas, por mais que MJ tenha alcançado o status de ícone ou lenda da música, ele também era afetado pelas críticas. E tentou fazer o que mais sabia para responder a elas. É o caso das agressivas "Monster" e "Breaking News". A primeira, com participação do rapper 50 Cent, é um disparo contra a indústria do entretenimento. A segunda, "Breaking News", começa com a seguinte frase: "Todo mundo querendo um pedaço do Michael Jackson". Já diz tudo.
Mas há bons achados. "Keep Your Head Up" é uma balada charmosa. Um coral de fundo ajuda a esconder a fragilidade da voz de Michael. Já (I Like) "The Way You Love Me" vale pela gravação em que o Rei do Pop faz um beat-box mostrando como deseja a bateria e cantarola a canção. Mesmo nos melhores momentos, Michael não consegue convencer totalmente. O Rei do Pop sempre foi exigente com a qualidade das suas canções e, se ele não tinha se sentido à vontade para divulgá-las, é porque talvez elas devessem mesmo ficar guardadas.