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Humberto Gessinger comenta o novo trabalho da banda

Rodrigo Juste Duarte
19 out 2001 às 17:28

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Álbuns inteiros gravados ao vivo são uma constante na carreira dos Engenheiros do Hawaii. Dos 13 lançamentos que o grupo já acumulou, quatro deles foram editados a partir de apresentações do grupo sobre o palco, dispensando o excesso de cuidados técnicos de um registro em estúdio.

No ano passado, foi lançado "10.000 Destinos", com 19 canções gravadas no Palace (em São Paulo) em março de 2000. Trouxe à tona clássicos como "Toda Forma de Poder", "Infinita Highway" e "Alívio Imediato" até êxitos mais recentes como "A Promessa" e "A Montanha", além de inéditas como "Números" e "Novos Horizontes".

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Para comemorar o aniversário deste lançamento, a gravadora do grupo, Universal, reeditou o álbum com algumas alterações. Foi rebatizado como "10.001 Destinos", ganhou capa roxa em lugar da alaranjada e nele foi incluído um segundo CD com sete faixas gravadas em estúdio com a nova formação. Neste CD de bônus não há sucessos. São músicas obscuras do grupo, mais conhecidas por seu público fiel - seria o Lado B dos Engenheiros. Entre as escolhidas, estão até "Freud Flintstone" e "Sem Você (!É Foda!)", ambas do repertório do Gessinger Trio, um projeto paralelo que Humberto Gessinger desenvolveu anos atrás.

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Mas os Engenheiros do Hawaii não estão fazendo corpo mole como muitos artistas nacionais que pararam de lançar material novo para entupir as rádios e as prateleiras das lojas com acústicos e discos de covers. O novo rebento da trupe de Humberto Gessinger está programado para janeiro de 2002, somente com canções inéditas. O vocalista do grupo deixa, nesta entrevista, suas impressões sobre este trabalho, seu público e os músicos que o acompanham:

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Bonde: Qual o propósito de um CD ao vivo? Muitas vezes ele perde muito em comparação ao estúdio e as músicas acabam soando muito parecidas umas com as outras.


Humberto Gessinger: Acho legal deixar explícito que o estúdio e o palco são dois ambientes diferentes. Tu pode perder algumas coisas tecnicamente ao vivo, pois você não tem controle sobre suas variáveis. Mas por outro lado tem o lance da espontaneidade. O disco ao vivo é um retrato bem fiel da turnê que estamos fazendo. Isto não é exceção na carreira dos Engenheiros, pois a cada três álbuns de estúdio, nós gravamos um ao vivo. Acho que isso nos deixa mais à vontade para fazer o que tem de mais legal: retratar um momento sem aquela paranóia de que o disco seja tecnicamente perfeito. Outra coisa bacana é que as canções crescem. Muitas músicas que já tocamos há tempos começam a ser cantadas pelo público. É legal acompanhar como as pessoas vão se apoderando das canções, que é algo que se sente num disco ao vivo.

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Bonde: Entre as faixas bônus do segundo CD, há duas do Gessinger Trio.


HG: Foi um projeto paralelo feito para durar um ano. A princípio, eu nem queria transformar em disco, mas acabamos gravando. Montei a banda na vontade retomar o formato trio e de tocar em outros ambientes, entrando em contato com a energia de quem está começando. Dele saíram os meninos que me acompanharam em dois discos. Hoje eu vejo o Gessinger Trio como um disco dos Engenheiros.

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Bonde: Da formação clássica dos Engenheiros faziam parte Carlos Maltz e Augusto Licks. O que eles andam fazendo ultimamente?


HG: Carlos Maltz está trabalhando com astrologia em Brasília. Há dois meses, nos encontramos e gravamos um disco com composições deles. É um trabalho que tem bastante de exoterismo. Estamos estudando uma maneira de lançar. Quem sabe em bancas de revistas. O Augusto não trabalha mais com música. Soube que estava atuando como jornalista. Inclusive cobriu a última copa para um jornal on line. A última notícia que recebi é que ele estaria morando no interior do Rio Grande do Sul. A saída dele não foi muito tranqüila, mas nada que tenha abalado a nossa amizade.

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Bonde: E o próximo CD de estúdio? Há uma previsão de quando deve ser produzido?


HG: Sim. Já estamos gravando. Os músicos que estão comigo são Paulinho Galvão (guitarra), Bernardo Fonseca (baixo) e Gláucio Ayala (bateria), que estão me acompanhando desde março. O novo trabalho vai se chamar "Surfando Karmas e DNA", que é o nome de uma canção. Um lance legal na gravação é que desta vez eu não parei para me enfurnar no estúdio por dois meses. Fomos gravando aos poucos, quase num esquema semana-sim-semana-não. Este disco está sendo gravado desde junho e está em fase de finalização. Vai sair no final de janeiro do ano que vem.

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Bonde: Bem diferente do que acontecia antigamente com os Engenheiros. Até o sétimo disco, "Gessinger, Licks & Maltz", de 1992, vocês sempre preparavam o disco para ser lançado em dezembro, com a proposta de ser um presente de natal.


HG: Mas eu acho que o disco dos Engenheiros não é tão mercadológico, a ponto de ser lançado num momento certo, com rigidez. Já temos um público fiel que nos acompanha e sempre compra os discos assim que lançados.

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Bonde: A época em que os Engenheiros mais ganharam público foi quando lançaram o quinto disco, "O Papa é Pop". Hoje, o público da banda tem se renovado, mesmo sem a exposição na mídia que a banda tinha antes?


HG: "O Papa é Pop" vendeu um pouco mais que os outros, mas é uma vendagem bem homogênea. Com a gente acontece algo que não é muito comum entre os artistas de gravadoras: independentes de estarmos mais expostos à mídia ou não, nossa vendagem não muda muito. Como já falei, temos um público fiel, mas ele tem se renovado. Temos notado pelos shows e pelos e-mails que recebemos. Não sei se é porque nos shows a galera nova é mais barulhenta e se destaca mais, mas eu sinto uma grande renovação do público.


Bonde: Como estão os temas das novas músicas. Houve mudanças no enfoque?


HG: Se houve, não foi nada consciente, que eu tenha procurado. A gente amadurece e vai aprendendo a fazer melhor o nosso ofício. Não acho que tenhamos mudado o estilo nem das letras, nem das músicas, apesar das mudanças de formação. Desde cedo, eu sabia o que eu queria e poderia fazer com música. A história dos Engenheiros é mais uma continuidade do que uma ruptura.


Em um programa recente do Ratinho, havia uma matéria sobre sincofonia, o fenômeno de encontrar mensagens em discos e fitas rodados ao contrário. Foi mostrada uma música dos Engenheiros do Hawaii que ao contrário dava uma bronca no ouvinte.

HG: Era "Ilusão de ótica", gravada em "O Papa é Pop". No estúdio, armamos para que quando a fita fosse rodada ao contrário fosse ouvida a frase "Porque é que cê tá ouvindo isto ao contrário? O que é que cê tá procurando? hein?". Nem era um trecho escondido, pois estava incluído no encarte. Foi uma brincadeira que fizemos com pessoas que vêem o mal em todos os lugares. Na minha opinião, quem vê o mal em todos os lugares tem o mal dentro de si. Foi exatamente um brincadeira com quem tem essa postura de ficar procurando o demônio em músicas rodadas ao contrário. Eles tanto que procuram que um dia vão achar (risos).


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