Há dois anos, muito antes de o Uruguai se tornar o primeiro país do mundo a legalizar o cultivo e a venda de maconha e de o Estado americano do Colorado liberar o uso recreativo, o músico e compositor Henrique Cazes já estava pensando na erva.
Não que ele seja usuário. Movido pela discussão em torno das passeatas em várias cidades brasileiras em prol da descriminalização, ele compôs "A Marcha da Maconha", agora finalista do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso, no Rio.
"Desberlota aí/Que eu enrolo pra você/Depois só falta um canto/Sossegado pra acender", canta Cazes num vídeo postado no YouTube na segunda-feira, 7, e que já foi visto por mais de 3.200 internautas. O título escolhido por Cazes se dá pelo fato de as passeatas em defesa da liberação se denominarem Marcha da Maconha. Ele só a lança agora porque não estava no Brasil no carnaval passado. "O que me inspirou foi ver que proibiam e depois autorizavam a marcha. Como o Uruguai e o Colorado liberaram, esse acabou sendo um bom momento. Não sou usuário, mas sou músico há 38 anos e nesse meio se convive com o uso da maconha sem problema", conta Cazes.
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O compositor, que já participou de outras duas edições do concurso, ficou surpreso ao saber que a marcha tinha sido selecionada, uma vez que o resultado final é transmitido ao vivo pelo Fantástico, na Rede Globo de Televisão, e, por isso, as marchinhas mais ousadas costumam ficar de fora.
Cazes havia inscrito outras duas composições que falam sobre o grupo Procure Saber e a questão da autorização prévia de biografias no Brasil, e outra intitulada Vovó É Home. Patrocinado pelo Estado, o concurso existe desde 2005 e está ligado à revitalização do carnaval de rua do Rio desde a década passada. Os jurados avaliam músicas mandadas de todo o Brasil. Concorreram 853 marchinhas, das quais o júri selecionou dez para a grande final, que será no dia 16 de fevereiro. Os temas mais recorrentes foram os protestos de rua, o mensalão, a Copa do Mundo e a espionagem americana.